A
política de segurança pública militarizada o eliminou e desapareceu com seu
corpo. Retirou da família o direito inalienável de praticar o último gesto de
despedida e desfazimento das relações estabelecidas ao longo da vida: o
sepultamento. Não bastava terem torturado, matado e desaparecido com seu corpo.
Tentaram criminalizá-lo, ainda que para isto fosse necessário criminalizar,
também, sua esposa e mãe de seus filhos. Para os formuladores e garantidores da
atual política do Estado a perversidade até então praticada era pouca. Na casa
com nove metros quadrados Amarildo vivia com a mulher e os filhos. Não era uma
casa. Mas, um cômodo no final de um beco, tendo ao fundo um valão. Era um beco
sem saída. Um delegado, que não foi ao local, disse que a casa era rota de fuga
para o tráfico. Felizmente, ainda há gente com dignidade em toda parte,
inclusive nos quadros da Polícia Civil e no Ministério Público. E desta forma,
Beth (viúva de Amarildo) e seus filhos poderão permanecer em liberdade; merecem
uma casa. Uma imputação policial é, igualmente, um beco sem saída para aqueles
que não dispõem dos meios de defesa. As agências seguintes cuidam apenas de
homologar o que consta do inquérito ou auto de prisão. E adeus liberdade!
O
delegado Orlando Zaccone, que impediu a truculência, e a promotora, Marisa
Paiva, que não embarcou na versão fantasiosa que criminalizava inocentes e
possibilitava o encobrimento da política que se executa nos territórios
ocupados e militarizados das UPPS, merecem nosso reconhecimento público.
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