“Na defesa dos seus interesses, o fazer política para a classe dominante
é permanente e tratado como ‘natural’ diante do desempenho de suas atividades. A
ideologia da classe dominante é a acumulação de bens; a política é apenas um
meio de atingir seus objetivos. Considera-se próprio da ‘natureza’ dos
interesses a defender, a reunião de empresários, a formação dos seus clubes e
suas associações. Sem causar estranhamento, a reunião de magistrados com
empresários e governantes é tratada como relevante para a defesa da ordem. No
entanto, as manifestações de trabalhadores costumam ser tratadas como agrupamentos
ideologizados, em contrariedade à ordem. A reunião de magistrados com populares
já causou estranheza, porque era incomum tal tipo de interlocução. Ao povo
costuma-se pretender que sua atuação seja limitada a trabalhar diariamente e
votar quando convocado para tal. Assim, o dia da eleição se transforma no único
dia no qual se permite aos trabalhadoresexpressarem-se livremente sem o risco
de serem criminalizados.
“Votar é um gesto. É um ato de participação na vida pública. Mas, não há
de ser o único gesto político. Afinal, a Constituição, que precisa ser efetivada,
diz que todo o poder emana do povo que o exerce por meio de seus
representantes, mas também diretamente.”
Teremos hoje eleição para a presidência da
república e para o governo do Estado. Não é possível dizer que o escolhido será
o exercente do poder. Os cargos apenaspossibilitamo exercício de parcela de
poder, que também se exercepor outros meios. Além das instâncias informais das
quais decorrem poder, o estado brasileiro é repartido em poderes distintos, em
funções executivas e legislativas providas por mandatos temporários mediante eleições
– com esferas municipal, estadual e federal - e judiciárias, com cargos de
ocupação permanente e por outros meios de acesso. O judiciário por não decorrer
de processo eleitoral, deve funcionar racionalmente para a realização da ordem
jurídica democrática e garantia dos direitos fundamentais, apartado de juízos
de conveniência e oportunidade e, portanto, sem a politização que o
caracteriza.
A ocupação do cargo, por si só, não é exercício de
poder. Poder é a capacidade de produzir o efeito desejado com a opção política
realizada. O ocupante do cargo há de fazer opções e buscar os meios paraimplementá-las,
ciente de que os recursos escassos implicam opção por certos beneficiários em
detrimento de outros.
O exercício do poder é dinâmico e se renova a cada
opção ou decisão política, ancorado nos gestos dos organismos sociais que se
articulam e se mantêm em atuação para a defesa dos seus interesses, seja a classe
dominante ou as forças populares. O atuar das forças sociais e os compromissos
dos governantes é que orientam as opções políticas.
Na defesa dos seus interesses, o fazer política
para a classe dominante é permanente e tratado como ‘natural’ diante do
desempenho de suas atividades. A ideologia da classe dominante é a acumulação
de bens; a política é apenas um meio de atingir seus objetivos. Considera-se
próprio da ‘natureza’ dos interesses a defender, a reunião de empresários, a
formação dos seus clubes e suas associações. Sem causar estranhamento, a reunião
de magistrados com empresários e governantes é tratada como relevante para a defesa
da ordem. No entanto, as manifestações de trabalhadores costumam ser tratadas
como agrupamentos ideologizados, em contrariedade à ordem. A reunião de
magistrados com populares já causou estranheza, porque era incomum tal tipo de
interlocução. Ao povo costuma-se pretender que sua atuação seja limitada a
trabalhar diariamente e votar quando convocado para tal. Assim, o dia da
eleição se transforma no único dia no qual se permite aos
trabalhadoresexpressarem-se livremente sem o risco de serem criminalizados.
Votar é um gesto. É um ato de participação na vida
pública. Mas, não há de ser o único gesto político. Afinal, a Constituição, que
precisa ser efetivada, diz que todo o poder emana do povo que o exerce por meio
de seus representantes, mas também diretamente.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
26/10/2014, pag. E6.
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