“No governo FHC as
tentativas de desmantelamento do poder e dever de dizer o Direito pelo Judiciário
foram obstadas por oposição competente, que — no poder — poderia ter
contribuído para a realização substancial e não apenas formal da ordem
jurídica. A resistência no Senado à indicação de Fachin é a objeção do Brasil
arcaico às formas de implementação da ordem jurídica para a realização da
justiça”.
A indicação de Luiz Fachin para o
Supremo ensejou polêmica que não se via há muito tempo. O marechal Floriano
Peixoto, em guerra com a Marinha e com o STF, teve cinco dos seus indicados
rejeitados. O ministro Evandro Lins e Silva, indicado por João Goulart, foi
aprovado com a diferença de um voto. Analisando a história das nomeações para o
STF, o que se depreende é que juristas com perfil progressista têm maior
rejeição no Senado. O STF é o último recurso dentro da legalidade. A ele
somente se opõem, com vantagem, as armas nos golpes de Estado mediante a
submissão da legalidade ao regime da força, tal como fazem os ladrões quando
nos querem tirar a carteira.
Lins e Silva teve contra si parte das
empresas de comunicação — assim como Fachin — e, nomeado, continuou sendo
difamado por editoriais. Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal
aplicavam o Direito editado pelo regime militar, sem as concessões próprias das
injunções políticas. Eram garantistas e efetivadores do Direito vigente e por
isso foram cassados após o AI-5.
Em 1996, o Banco Mundial editou o
Documento Técnico 319, recomendando reforma do Judiciário na América Latina e
no Caribe a fim de satisfazer ao capital. Lê-se que a recomendação de reforma
era da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, responsável pela
reforma do ensino no Brasil, após o golpe de 1964, quando do acordo MEC-Usaid.
Mas não foi em todos os lugares que a subordinação do Judiciário se fez
facilmente, por oposição do trabalhadores. Consta no documento que “na
Argentina a Usaid teve dificuldade em implementar reformas, antes da alteração
para uma estrutura constituinte” e que “no Chile a cobertura da imprensa foi
muito importante para a reforma do Código Penal”.
O Banco Mundial e a Usaid recomendam
alternativas para a solução de conflitos. Assim é que na América Latina há
esforço para supressão dos direitos, notadamente dos trabalhadores, e resolução
de conflitos por arbitragem, conciliação e mediação. Mas o papel do Judiciário
é dizer o direito.
No governo FHC as tentativas de
desmantelamento do poder e dever de dizer o Direito pelo Judiciário foram
obstadas por oposição competente, que — no poder — poderia ter contribuído para
a realização substancial e não apenas formal da ordem jurídica. A resistência
no Senado à indicação de Fachin é a objeção do Brasil arcaico às formas de
implementação da ordem jurídica para a realização da justiça.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, em 17/05/2015, pag. E6. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-05-17/joao-batista-damasceno-fachin-no-supremo.html
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