“O nazismo matou em câmaras de gás, queimou livros, destruiu obras de
arte, propagandeou a unidade totalitária e eliminou os que considerava
diferentes. Somente as democracias produzem opositores e interlocutores.
Regimes totalitários produzem dissidentes a serem linchados e eliminados”.
As redes sociais
possibilitaram maior interação entre as pessoas. Mas postagens podem gerar
identidades ou desentendimentos. Uma delas, veiculada esta semana, expressa uma
pérola do pensamento dos excluídos. Foi redigida por um morador da periferia, pessoa
com preocupação social que apreendeu a linguagem dos excluídos ou um professor
de Português que deu a uma redação o precioso estilo. Quem a escreveu expressou
a defesa dos excluídos e certamente não agradou ao ‘andar de cima’ e pode ser
considerado um transgressor que ousa defender os interesses do povo.
Transcrevo:
“Jesus nasceu numa
quebrada. Periferia da periferia mesmo. Passou a vida arrumando treta por
questões sociais. Defendeu assassino, ladrão, puta, pobre e leproso. Juntou uma
galera pra defender a causa. Começou a fazer barulho. Conquistou o desafeto da
classe média e da elite (ponto pro cara). Considerado subversivo, foi preso
pelo império. A classe média pedia pena de morte, mas o crime não a
justificava. Pôncio Pilatos jogou o BO pra Herodes. Herodes se ligou na mesma
coisa e devolveu o BO. Pilatos deixou pra galera decidir. Bem pensado, porque
desde aquele tempo o povo já tava cheio de dateninha linchador. O cara foi
executado ouvindo piadinha de justiceiro. E não foi morto ‘entre’ bandidos. Foi
executado pelo Estado como bandido — subversivo, que de fato era. Enfim, o
messias cristão foi um sujeito pobre, nascido na perifa, engajado em questões
sociais, executado como bandido pelo Estado sob os aplausos dos justiceiros.
Então, Jesus, se você estiver lendo isso e pensando em voltar, fica esperto!
Essa ‘gente de bem’ de hoje em dia vai te matar de novo enquanto come bacalhau
e ovo de páscoa.”
Os excluídos nem
sempre são objeto da atenção dos dominadores. Para eles foram reservadas as
espadas, fogo em seus casebres, genocídios e, por último, fuzis, caveirões e o
encarceramento em massa. A execução fica a cargo de outros excluídos cooptados
pela ordem. E a defesa dos excluídos por quem era considerado cooptado
ensandece a classe dominante. Na ‘Era da Mídia’, os autos de fé para execução
dos hereges é a punição midiática, por vezes custeada por verbas de
publicidade. E isto sustenta a crença dos esquizofrênicos no poder, incapaz de
resolver suas próprias mazelas.
O nazismo matou em
câmaras de gás, queimou livros, destruiu obras de arte, propagandeou a unidade
totalitária e eliminou os que considerava diferentes. Somente as democracias
produzem opositores e interlocutores. Regimes totalitários produzem dissidentes
a serem linchados e eliminados.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, em 07/06/2015, pag. E6. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-06-07/joao-batista-damasceno-autos-de-fe.html
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