"A civilidade está em crise. Na saída de um restaurante, Chico
Buarque foi hostilizado por coxinhas que o acusavam de defender corrupto e de
morar em Paris. Mas dentre os Coxinhas estava o neto de Mário Garnero,
banqueiro que em 1985 fora acusado de fraude financeira, via Brasilinvest. O
mais agressivo, que bradava contra a corrupção, era filho de usineiro acusado
de grilagem e genocídio. Chico mora no Rio. Mas o neto do banqueiro tem imóveis
no exterior. Morava em St. Moritz antes de se mudar para Londres, quando
namorava a patricinha Paris Hilton".
O Brasil é o país
das contradições. Durante o Advento, tempo no qual cristãos esperam a
comemoração do nascimento do seu deus-menino e dizem praticar a fraternidade e
a paz, um fato tomou, agressivamente, as mídias sociais e o noticiário. Foi o
flagrante da bancária Fabíola na entrada de um motel. A mim não interessam as
razões da Fabíola para ter um amante, a crocodilagem do muy amigo ‘gordinho da
Saveiro’, a ira do marido ou o interesse do cineasta indignado, mas o
linchamento midiático de quem não cometera qualquer ilícito penal ou civil ou
praticara qualquer ato lesivo, a não ser à expectativa de exclusividade sexual
do marido traído. O clamor por justiça diante da condenação à morte, por
apedrejamento, da iraniana flagrada em adultério foi esquecido, assim como a
adúltera apresentada, para apedrejamento, a Cristo sob o fundamento de que a
Lei de Moisés o autorizava. Fabíola foi apedrejada midiaticamente. Em pleno
Advento foi esquecida uma das mais lapidares lições do deus-cristão, bem como o
que faziam as mães dos que a condenaram no momento de suas concepções.
A civilidade está
em crise. Na saída de um restaurante, Chico Buarque foi hostilizado por
coxinhas que o acusavam de defender corrupto e de morar em Paris. Mas dentre os
Coxinhas estava o neto de Mário Garnero, banqueiro que em 1985 fora acusado de
fraude financeira, via Brasilinvest. O mais agressivo, que bradava contra a
corrupção, era filho de usineiro acusado de grilagem e genocídio. Chico mora no
Rio. Mas o neto do banqueiro tem imóveis no exterior. Morava em St. Moritz
antes de se mudar para Londres, quando namorava a patricinha Paris Hilton.
Mas nem tudo são
baixarias de coxinhas e de pessoas em conflito com a sexualidade. A contradição
se completa quando, em momento de crise, o governador Pezão fecha hospitais e
anuncia renúncia de tributos para fábrica de bebidas e montadoras de automóveis
e se dispõe a pagar dívida de R$ 40 milhões da SuperVia com a Light, e o
prefeito Eduardo Paes aumenta o subsídio para o Carnaval em prejuízo da Educação
e Saúde. Setor sem contrariedades é o financeiro. Segue com os maiores lucros
da história. Em momento de encolhimento do setor produtivo e demissões, o maior
banco brasileiro fechará o ano com lucro de R$ 25 bilhões.
Publicado origariamente
no jornal O DIA, em 27/12/2015, pag. 18. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2015-12-27/joao-batista-damasceno-brasil-pais-das-contradicoes.html