“Conheço
o ministro. Por indicação do DEM e do senador Renan Calheiros, foi conselheiro
do CNJ em sua primeira composição, em 2005. Em Brasília, para tratar de questão
coletiva da magistratura, pedi a ele audiência. Ele apenas solicitou que eu o
aguardasse. A hora passou, e ele tinha saído por outra porta e ido embora.
Relatei o fato a um amigo, que se indignou e disse que sabia quem mandava nele
e que ele teria que me receber. Meu amigo telefonou para o dono do conselheiro,
que telefonou para ele, que abaixou o topete imaginário e humildemente me
recebeu. O constrangimento era recíproco. Fui à audiência para lhe mostrar que
sabia quem mandava nele e que independência funcional somente a tem quem ocupa
o cargo por mérito, e não por politicagem e espetacularizações de quem coloca o
carreirismo acima de valores e princípios”.
Plagiando o ministro José Eduardo Cardozo, que
implementou repressão aos movimentos sociais e conseguiu, em 12/07/2014, a
prisão de estudantes no Rio para não se manifestarem no final da Copa do Mundo,
o ministro Alexandre de Moraes — criminalizando condutas antecipadamente —
conseguiu a prisão de jovens que desabafavam pela internet suas frustrações.
Irresponsavelmente, o ministro disse tratar-se de uma organização terrorista
vinculada ao Estado Islâmico capaz de atos de terrorismo durante a Olimpíada.
Com estética capilar semelhante à de Mussolini, o ministro tem
história, a começar pelo tangenciamento à máfia da merenda. Na ópera-bufa
encenada, não faltaram fantasias pueris. Em entrevista, disse ter rastreado
conversas pelo WhatsApp, apesar de serem criptografadas de ponta a ponta e de
impossível interceptação. Apelidos dos presos podem ter confundido jovens de
periferia com árabes criminalizáveis pelo racismo: Orelha, Trek do Amor, Pão
com Ovo, Pixote, Sapinho, Leitão, Bamba e Chapoca, dentre outros.
O juiz abdicou do papel de garantista da liberdade. Prendeu por
antecipação ao crime, mas para investigação. E descartou se tratar de
terroristas. O ministro insistiu, chamou a imprensa e divulgou a fantasia da
insegurança com a qual se justificam as truculências do Estado Policial. O
resultado foram milhares de cancelamentos de viagens e hospedagens de turistas
traumatizados com terrorismo em lugares onde ele realmente existe.
Conheço o ministro. Por indicação do DEM e do senador Renan
Calheiros, foi conselheiro do CNJ em sua primeira composição, em 2005. Em
Brasília, para tratar de questão coletiva da magistratura, pedi a ele
audiência. Ele apenas solicitou que eu o aguardasse. A hora passou, e ele tinha
saído por outra porta e ido embora. Relatei o fato a um amigo, que se indignou
e disse que sabia quem mandava nele e que ele teria que me receber. Meu amigo
telefonou para o dono do conselheiro, que telefonou para ele, que abaixou o
topete imaginário e humildemente me recebeu. O constrangimento era recíproco.
Fui à audiência para lhe mostrar que sabia quem mandava nele e que
independência funcional somente a tem quem ocupa o cargo por mérito, e não por
politicagem e espetacularizações de quem coloca o carreirismo acima de valores
e princípios.
Publicado
originariamente no jornal O DIA em 30/07/2016, pag. 16. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2016-07-30/joao-batista-damasceno-um-ministro-trapalhao.html
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