Falei
com um amigo juiz sobre o aplicativo que há na Cidade do Rio de Janeiro que
torna mais barato e confortável andar de táxi que de Uber. É o aplicativo
Taxi.Rio. Por ele, centenas de taxistas oferecem corridas com desconto, que vai
de dez a quarenta por cento.
O
aplicativo ajuda o carioca a contratar um serviço regulamentado, tabelado e com
desconto variável, diverso do Uber que precariza as relações de trabalho e
aumenta o preço de acordo com a procura. O taxista não tem que pagar ao
aplicativo. O Taxi.Rio vence a adversidade com inteligência, sem 'choques de
ordem', Batalhões de Choque e extermínios. Quem usa inteligência não precisa da
força.
Sem
qualquer comentário sobre o aplicativo, meu colega me perguntou por que eu
usava táxi e não o carro particular. Respondi que, por vezes, opto pelo táxi,
pois a política de segurança aumentou a truculência em certos lugares e os
táxis se tornam menos sujeitos a disparos dos agentes públicos adestrados para
atirar e depois pedir a identificação e não se precisa preocupar com
estacionamento. Ele replicou: "É só não ir a estes lugares e deixar o
estacionamento para o motorista!".
Estarrecido,
mudei de assunto. Juízes treinam no Bope para aprender como policiais invadem
favelas. Mas desconhecem a realidade a que é submetida a população das favelas
e periferia. A morte, retratada por Carlos Latuff, do porteiro Nelson Farias
Barros, de 62 anos, quando voltava da padaria com o pão para o café da manhã da
família, é exemplificativa do que fazem as "forças de segurança".
Juízes
e promotores de Justiça precisam saber o que está acontecendo. Nos lugares por
onde circulamos há algum resquício de respeito aos valores que nos caracterizam
como civilização. Este respeito dos agentes públicos é maior conosco porque
brancos, adequadamente vestidos, com dentes tratados e, sobretudo, quando nos
identificamos.
Eu
acredito que muitos juízes e promotores não sabem o que está acontecendo nas
favelas durante a intervenção. Muitos sequer ouviram falar das execuções na
Favela do Salgueiro. Mas há os que ignoram porque optaram por ignorar. Na
Alemanha nazista muitos cidadãos não sabiam dos campos de concentração e das
atrocidades que neles aconteciam. Mas, igualmente não queriam saber. E por isso
tinham responsabilidade pelo que aconteceu.
Jamais
direi que não sabia, assim como jamais poderão dizer que não falei sobre tais
atrocidades. O que posso fazer estou fazendo: avisando, denunciando, publicando
aqui e em meu blogue 'Resistência lírica". É pouco. Mas, aqueles que forem
encarregados de atuar nos casos não poderão me olhar e dizer que tais
atrocidades não foram publicizadas.
As
violações à vida, à inviolabilidade do domicílio, à integridade física e à
dignidade da pessoa humana que se perpetram nas favelas pelas forças de
ocupação somente são possíveis porque há quem as acobertem.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
01/09/2018, pag. 10. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2018/08/5571012-taxi-rio-inseguranca-e-inseguranca.html
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