A incursão da
PM no Morro do Fallet causou 15 mortes. Há dúvida se houve efetivo confronto e
exercício de legítima defesa. Mães e vizinhos não negam que alguns dos mortos
empreendiam comércio varejista de drogas. Mas, falam em torturas antes das
execuções, bem como morte por faca. Causa estranheza um confronto com 15 mortos
e nenhum policial sequer ferido. Os precedentes da polícia em diversas outras
ocorrências é o fundamento da dúvida.
Mas não foi o BOPE. Justiça seja feita. Foi o BPChq, comandado pelo tenente-coronel André Batista.Depois de comandar o 9°
BPM de Rocha Miranda, o tenente-coronel Batista assumiu o comando doBPChq.
Trata-se de policial da elite da tropa, com curriculum premiado. Ele foi o
negociador do sequestro do ônibus 174, onde morreram a professora
Geiza Gonçalves e o assaltante Sandro Barbosa. Além disto, é co-autor do livro Elite da Tropa em parceria com
Rodrigo Pimentel e o sociólogo Luiz Eduardo Soares. O personagem André Matias
no filme Tropa de Elite, teria sido inspirado nele. Foi um dos assessores do
sociólogo, em secretaria municipal de Nova Iguaçu, na gestão do então prefeito
Lindberg Farias.
Mas, a polícia não deve ser sozinha responsabilizada por suas violências. Os
que pensam para ela e lhes formulam as justificações são igualmente
responsáveis. A polícia violenta, mas incorruptível, retratada no filme Tropa
de Elite 1, decorre de uma concepção da “boa polícia” da qual falam o sociólogo
Luiz Eduardo Soares da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ e o
antropólogo Roberto Kant de Lima da Universidade Federal Fluminense/UFF, onde
criou curso de Segurança Pública. Em suas formulações, a “boa polícia” há de
ser incorruptível, mas pode ser violenta. Em suas opiniões, corrupção é uma
opção; é um desvio pessoal. Mas, a violência é um desígnio inevitável da
atuação policial
Não se pode negar o direito à legítima defesa. É a defesa da própria vida em
detrimento da vida ou incolumidade física de um agressor injusto. Mas, não se
pode incentivar a escalada da violência. O Estado brasileiro já sofreu
condenações da Corte Interamericana de Direitos Humanos por suas violações em
chacinas. As condenações na CIDH não têm surtido efeito. Ela julga Estados.
Igualmente não têm sido eficazes os mecanismos nacionais de controle da
violência do Estado. Resta apelar para o Tribunal Penal Internacional. O TPI
julga indivíduos por crimes de genocídio, de guerra, contra a humanidade e
crimes de agressão. Se é guerra, que sejam os autores e partícipes submetidos à
Convenção de Genebra. Se não, e não é, sejam julgados por eventuais crimes
contra a humanidade, assim considerados os massacres, a desumanização, os
extermínios e as execuções. Em tal caso, tanto pode responder os que executam,
quanto toda a cadeia de comando que de qualquer forma concorre para os crimes,
inclusive quem incentiva execuções ou faz apologia propondo snipers para “mirar
nas cabecinhas”.
sábado, 16 de fevereiro de 2019
A boa polícia
Publicado originariamente no jornal O DIA, em 16/02/2019, pag. 10.
Excelente
ResponderExcluirNão podemos ser coniventes com chacinas das populações periféricas indefesas. Que se faça justiça, palavra tão vilipendiado no Brasil contemporâneo. BASTA!
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