O imbróglio envolvendo as instituições brasileiras decorrente da elaboração de dossiês que trata brasileiros como inimigos a serem rotulados e perseguidos somente é compreensível se entendermos o papel das instituições e dos agentes que compõem o grupo social que sobreviveu nos escombros, não removidos, do regime empresarial-militar que enlutou o Brasil de 1964 a 1985.
No presente momento, a hegemonia sobre as instituições
democráticas, decorrente do processo eleitoral viciado pelas fake News e
atuação marginal de membros do Poder Judiciário, Ministério Público, polícias
e Forças Armadas, reúne pelo menos três grupos específicos: um grupo com a
racionalidade do mundo capital e que tem buscado reformas supressoras dos
direitos do mundo do trabalho, bem como entregar as riquezas nacionais; um
outro grupo formado por aqueles que se opuseram à abertura política e
colocaram bombas pelo país até que uma delas explodiu no colo de um
terrorista fardado e matou seu companheiro no Riocentro. O Exército
protegeu o terrorista, que era capitão, e o promoveu até se reformar no
posto de coronel; um terceiro grupo é de aloprados capazes de ver Jesus na
goiabeira, discursar sobre a terra plana ou duvidar da existência do
coronavírus, mas capaz de fazer tratamento com cloroquina ou ivermectina.
Este grupo, aceita até tratamento com ozônio, mesmo negando a existência
do vírus que chama de fake News chinesa.
O grupo da linha dura, descendente daqueles que decretaram o AI-5
é preocupante, porque não atua sob os holofotes da democracia. Os
generais Geisel e Golbery em suas obras disseram que a abertura política
era necessária para evitar que o país chegasse a uma guerra civil entre
grupos clandestinos. Mas temendo a supremacia dos comunistas e
dos nacionalistas que pudessem pretender transformações sociais, cuidaram
de eliminar aqueles que seriam considerados inimigos do regime, antes que
se fizesse a abertura política. Assim se montou a Operação Radar
para eliminá-los. Tentou-se limitar o mundo do trabalho a pretender
emprego, renda e possibilidade de consumo.
A linha dura do regime empresarial-militar teve que se esconder depois
do Caso Riocentro. Mas, não se desarticulou. Ao contrário, passou a
tramar dos escombros e da penumbra. Tendo perdido a batalha nas ruas, nas
urnas e no meio acadêmico – por incapacidade de oferecer qualquer proposta
à sociedade - sua pretensão no presente momento é destruir o que não
tem condições de vencer. Daí os ataques à cultura, à educação, ao ideário
de justiça, ao Estado de Direito e tudo o mais que expresse civilidade.
A Constituição diz que o Brasil se constitui num Estado Democrático e
de Direito e que o STF é dela o guardião. E por isso o ataque também ao
STF. A República do Brasil tem por um dos seus fundamentos o
pluralismo político. A Constituição é antifascista.
Os dossiês elaborados por um deputado paulista e por um membro
do Ministério Público no Estado do Rio Grande do Norte é expressão
daqueles que atuam dentro das instituições democráticas contra a
democracia. As atuações contra os Policiais Antifascistas precisam ser
repudiadas. Trata-se de mapeamento por aqueles que pretendem eliminar o
pensamento democrático para realizarem os objetivos que não conseguiram
alcançar nos Anos de Chumbo. A serviço dos interesses imperialistas um
deputado entreguista forneceu o dossiê, com dados pessoais de brasileiros,
ao governo dos Estados Unidos. Não são nacionalistas. Não defendem a
nação e os interesses do povo brasileiro. São patrioteiros, capazes de
chorar diante de qualquer pedaço de pano colorido, mas atentam contra a
soberania nacional. Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de
Salamanca, quando acossado pelos fascistas exclamou: “Vocês vencerão!
Porque têm a força. Mas, não convencerão, porque lhes falta razão!”. Unamuno
tinha razão. A força pode se impor esporadicamente, mas não tem condições
de se estabelecer em definitivo, porque a humanidade caminha é para a
frente; para a civilidade.
Amém!Que possamos trabalhar para que isso aconteça, levando essa bandeira de esperança e luta !
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