A operação Lava Jato não passou de uma
estratégia bem-sucedida dos Estados Unidos para minar a autonomia geopolítica
brasileira. Preocupava os EUA o crescimento de empresas que colocariam em risco
seus próprios interesses e a falta de completa submissão do Brasil à sua
política externa.
Em 2007, durante o governo de George Bush as
autoridades estadunidenses demonstraram incômodo com a falta de cooperação
brasileira com sua política intervencionista a pretexto de combate ao
terrorismo. O Brasil não se mostrou disposto a embarcar na histeria
estadunidense. Demonstrando alguma contribuição, o Brasil se dispôs a criar um
grupo de especialistas e aprender os métodos estadunidenses.
Naquele ano, o juiz Sergio Moro foi
convidado a participar de um encontro, financiado pelo Departamento de Estado
dos EUA, e fez contato com diversos representantes do FBI, do Departamento de
Justiça e do próprio Departamento de Estado. Simultaneamente, os EUA criaram um
posto de "conselheiro jurídico" na sua embaixada no Brasil, a cargo
de Karine Moreno-Taxman, especialista em combate à lavagem de dinheiro e ao
terrorismo.
Em 2009, Karine Moreno-Taxman discursou na
conferência anual dos agentes da Polícia Federal brasileira, em Fortaleza.
Diante de mais de 500 profissionais ensinou os brasileiros a fazer o que os EUA
queriam: "Em casos de corrupção, é preciso ir atrás do 'rei' de maneira
sistemática e constante, para derrubá-lo. Para que o Judiciário possa condenar
alguém por corrupção, é preciso que o povo odeie essa pessoa", afirmou.
Sendo mais explícita disse que: "A sociedade deve sentir que ele realmente
abusou de seu cargo e exigir sua condenação". Nenhum nome foi citado e nem
precisava.
O governo brasileiro não viu o monstro que
estava sendo criado. Ao contrário, a eleição da presidente Dilma em 2010
pavimentou o caminho. Seus auxiliares pouco demonstraram conhecer das
instituições políticas brasileiras e negligenciaram o papel dos EUA na nossa
política interna. Um grupo anticorrupção da OCDE, amplamente influenciado pelos
EUA, começou a pressionar o Brasil por leis mais duras de combate à corrupção.
Os EUA implementaram um programa chamado
“Projeto Pontes" para disseminar os seus métodos consistentes na criação
de grupos de trabalho anticorrupção, aplicação de sua doutrina jurídica que
inclui um sistema de recompensa para as delações e o compartilhamento
"informal" de informações sobre os processos, ou seja, fora dos
canais oficiais.
Em 2013, por pressão dos EUA, o Brasil
aprovou a lei anticorrupção. Naquele mesmo ano o procurador geral adjunto
estadunidense, James Cole, anunciou a vinda de agentes estadunidenses com o
intuito de "instruir procuradores brasileiros". Juristas destacaram o
caráter "imprevisível e contraditório" da lei e a ausência de
procedimentos de controle e, preocupados, alertaram sobre a possibilidade de
qualquer membro do Ministério Público poder abrir uma investigação em função de
suas próprias convicções, com reduzidas possibilidades de ser impedido por uma
autoridade superior. Ainda assim a presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei. A
lei antiterrorismo também foi sancionada e possibilita a criminalização dos
movimentos sociais.
Em janeiro de 2014, a lei anticorrupção
entrou em vigor e em março o procurador-geral da República da época, Rodrigo
Janot, chancelou a criação da "força-tarefa" da "lava
jato". A orquestração das prisões e o ritmo da atuação do Ministério Público
e do ex-juiz Sergio Moro transformaram a operação em uma novela
político-judicial, com acentuada e sem precedente espetacularização midiática.
No mesmo ano a procuradora estadunidense
Leslie Caldwell afirmou que "a luta contra a corrupção estrangeira não é
um serviço que nós prestamos à comunidade internacional, mas sim uma medida de
fiscalização necessária para proteger nossos próprios interesses em questões de
segurança nacional e o das nossas empresas, para que sejam competitivas
globalmente". Em 2015, os colaboracionistas procuradores brasileiros se
reuniram com agentes dos EUA e lhes passaram todas as informações que
precisavam. Em troca pediram cerca de R$ três bilhões arrecadados nos EUA
fossem repassados para uma fundação que criariam. Os EUA aceitaram.
Em 1953, em razão da criação da Petrobras,
os EUA patrocinaram brasileiros para infernizar a vida de Getúlio Vargas,
levando-o ao suicídio no ano seguinte. Desde 1823, o presidente estadunidense
declarara que nenhuma potência poderia se estabelecer no continente e fixou o
lema da Doutrina Monroe: “América para os americanos”. O Brasil não se tornará
um país soberano sob as asas dos EUA e enquanto perdurar a atuação dos
vendilhões da pátria.
Fonte: Publicado originariamente no jornal O DIA, em 05/04/2022. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2022/05/6395533-joao-batista-damasceno-o-suicidio-de-vargas-e-a-deposicao-de-dilma-fundamentos-comuns.html
Muito pertinente o texto. Parabéns
ResponderExcluirMuito pertinente o texto. Parabéns
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