“As vaias dirigidas
à presidenta Dilma Rousseff e o coro em xingamento durante a abertura da Copa,
em São Paulo, ecoaram no mundo político como se fosse acontecimento sem
precedente no campo do esporte ou da política. O mesmo coro já fora dirigido a
um apresentador de televisão, notável por seus comentários inapropriados, e foi
tratado como expressão da irreverência do torcedor.”
As vaias dirigidas à presidenta Dilma
Rousseff e o coro em xingamento durante a abertura da Copa, em São Paulo,
ecoaram no mundo político como se fosse acontecimento sem precedente no campo
do esporte ou da política. O mesmo coro já fora dirigido a um apresentador de
televisão, notável por seus comentários inapropriados, e foi tratado como
expressão da irreverência do torcedor.
Consagrou-se o costume de que não se
deve aplaudir os hinos nacionais ao final de sua execução. Isto porque quem
aplaude, porque gosta, tem o direito de vaiar, se não gostar. Daí é que
gostando ou não gostando, costuma-se manter postura respeitosa, sem expressão
do sentimento. As autoridades brasileiras têm dado demonstrações de não
compreender as regras do campo nos quais estão inseridas.
A política econômica desenvolvida
pelo governo federal pode estar agradando aos bancos e ao agrobusiness, mas é
um desastre para os trabalhadores. Não são política econômica os milhões de
benefícios do Bolsa Família, no valor de R$ 77, limitado a R$385 por família; é
misericórdia diante de extrema necessidade. Mesmo os pequenos e médios
agricultores começam a sentir os efeitos danosos de tal política, ante a
suspensão dos contratos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf),
que o Banco do Brasil celebrava.
A política de direitos humanos é um
desastre. O ministro da Justiça, que chefia a Força Nacional, instituída sem
previsão constitucional ou legal, se alia aos mais retrógrados executores de
‘política de segurança’ contra a sociedade.
O governo federal tentou capitanear a
euforia com a Copa do Mundo. Em razão disto, gastou dezenas de bilhões de reais
num evento que somente aos cartolas interessa. Ainda que o futebol promova a
mobilização da sociedade, não há razões para aplaudir os governantes, ante o
custo social para o evento.
Já se disse que no Maracanã, símbolo
do futebol brasileiro, se vaia até minuto de silêncio. Isto vale para os demais
estádios. Além disto, o público que vaiou a presidenta não era de eventuais
beneficiários de suas políticas sociais Bolsa Família ou Brasil Sorridente, nem
os banqueiros e grandes produtores rurais. Se havia quem tivesse razão para
aplaudir, estava na tribuna da presidenta, e não nas galerias.
Autoridades quando idealizam aplausos
podem se decepcionar. O ministro Joaquim Barbosa, depois de ofender o então
presidente do STF, foi tomar chope do Bar Luiz, tradicional local de boemia.
Saiu de láaplaudido. Parece ter gostado e relatou a Ação Penal 470, de olho na
mídia e no sentimento popular.
Acabou sob os insultos de um advogado
que justamente reclamava que seu recurso fosse julgado com prioridade, como
determina o regimento. Quem se conduz pelo desejo de aplauso pode colher
diversa manifestação de cordialidade.
Publicado
originariamente no jornal O DIA, em 29/06/2014. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2014-06-28/joao-batista-damasceno-entre-vaias-e-aplausos.html
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