Sarney e Temer: Sem comparação
O imbróglio no qual os setores mais tacanhos da
classe dominante brasileira meteram o Brasil não tem precedente na história.
Com o barco afundando, analistas regiamente pagos fazem comparações
justificadoras com outros momentos de crise e traçam paralelo com a Era Sarney.
Embora somente a palavra ‘lástima’ possa qualificar ambas as gestões, não há
paralelo. O único talvez seja o passível de apuração em sede criminal.
Sarney começou a vida política na bancada
nacionalista e era um dos jovens barulhentos da ‘banda de música’ da UDN. Com o
golpe militar-empresarial, fez carreira sob as hostes dos generais. Sobreviveu,
cresceu e se reproduziu politicamente. Chegou a presidente do partido do
governo e, após seu grupo perder a convenção no PDS para indicação do último
candidato a presidente escolhido indiretamente, bandeou para a oposição e se
tornou candidato a vice de Tancredo Neves.
Seu governo se caracterizou pelo ‘toma-lá-dá-cá’,
inclusive de canais de rádio e TV para parlamentares. O país viveu crise
intensa e chegou a declarar moratória, ou seja, decretar-se falido.
Com base no Plano Cruzado, apoiou candidatos e
elegeu governadores, dentre os quais Moreira Franco, no Rio, que — passado o
efeito da fraude eleitoral — se afastou, atacando o ministro da Fazenda, Dilson
Funaro.
Mas, mesmo tibiamente, cumpriu os compromissos
assumidos por Tancredo e que não eram seus. Fez a transição. O decano do STF,
ministro Celso de Mello, foi indicado em sua gestão; não nomeou amigos ou
cúmplices.
Diversamente, o presidente Temer é decorativo. Sua
vida política é inexpressiva. Sempre foi político sem importância e somente foi
eleito deputado federal pelo quociente eleitoral.
Ao vilipendiar a Constituição e rasgar o capítulo
dos direitos sociais, demonstra que é um golpista que não tem compromisso com
acordos firmados, nem com a pauta da eleição que disputou como vice. Com o uso
de linguagem empolada, Temer foi capaz de fazer Luana Piovani acreditar que
‘estagnar a economia’ era coisa boa.
A história somente se repete como farsa. No caso,
não há qualquer semelhança. Sarney guiava um barco avariado para o porto, ante
a morte do capitão. O outro assassinou o comandante da embarcação na tempestade
e leva o barco para o meio da tormenta.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
01/07/2017, pag. 9. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-06-30/joao-batistas-damasceno-sarney-e-temer-sem-comparacao.html
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