“No dia 13
de junho eclodiu a primeira grande manifestação no Rio de Janeiro, que
inicialmente questionava o aumento das tarifas de transporte público sem
planilha de custo que o justificasse. Seguiram-se outras manifestações, dentre
as quais, a de 20 de junho onde mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas. A
princípio autoridades e instituições estatais ficaram aturdidas. Mas, logo se
recompuseram, articularam-se contra o povo, promoveram repressão violenta,
prisão em massa e criminalização até de advogados que defendiam a liberdade. A
sociedade, que soube se manifestar contra a falta de políticas públicas
adequadas, tem o poder de realizar seus desejos sem passos atrás em sua
caminhada.”
Artigo publicado neste
espaço no dia 04 de junho de 2013, intitulado ‘Brasil x Itália’ afirmava que a
Constituição determina deva a ordem econômica assegurar a existência digna
conforme os ditames da justiça social. E indagava: Mas, o que é uma
Constituição diante da primazia do capital? O desrespeito ao Estado de Direito
em nome de um campeonato mundial de futebol já estava evidente. As instituições
já estavam postas a serviço dos cartolas.
O artigo lembrava que reações
vivenciadas em outros lugares do mundo onde governantes se envolveram em
práticas similares e exemplificava com ocorrência em março de 2011, na Itália,
quando se comemorava 150 anos de sua unificação, e na Ópera de Roma
executava-se ‘Nabuco’, de Verdi. Ao findar o ‘Va Pensiero’, canto dos escravos
oprimidos, que naquele país evoca o grito de liberdade do povo, o silêncio da platéia
substituíra-se por fervor. O maestro Riccardo Muti dissera sentir a reação do
público enquanto o coro dos escravos cantava: ‘Ó, pátria minha, tão bela e
ultrajada’. A platéia gritava “Bis!” e “Viva a Itália!” O constrangimento do
primeiro-ministro Silvio Berlusconi não poderia ter sido maior. O maestro não
queria fazer o bis para o ‘Va Pensiero’, pois uma ópera não deve sofrer
interrupções. Mas rendeu-se e disse: “Sim, estou de acordo. Viva a Itália! Se é
o que querem, cantemos juntos!”. Ao final, público, músicos, atores e maestro
choravam de emoção, demonstrando a vitalidade da sociedade italiana diante da
truculência e desmandos do Estado.
O artigo citava ‘O
Príncipe’, onde Maquiavel, em 1513, escrevera que a virtude se empunharia
contra a fúria porque o valor não se apagara dos corações italianos. E, concluía dizendo que também a brasilidade
não se apagara do coração do povo brasileiro que haveria de reagir aos
governantes e à truculência de sua polícia a serviço dos cartolas, da Fifa e
dos empreiteiros. Havia cheiro de pólvora no ar. As manifestações dos indígenas
em todo o país foram apontadas como o começo da reação ao que se fazia com o
povo.
No dia 13 de junho
eclodiu a primeira grande manifestação no Rio de Janeiro, que inicialmente
questionava o aumento das tarifas de transporte público sem planilha de custo
que o justificasse. Seguiram-se outras manifestações, dentre as quais, a de 20
de junho onde mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas. A princípio autoridades
e instituições estatais ficaram aturdidas. Mas, logo se recompuseram, articularam-se
contra o povo, promoveram repressão violenta, prisão em massa e criminalização
até de advogados que defendiam a liberdade. A sociedade, que soube se
manifestar contra a falta de políticas públicas adequadas, tem o poder de
realizar seus desejos sem passos atrás em sua caminhada.
Publicado
originariamente no jornal O DIA em 01/06/2014, pag. 16.
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