A semana transcorreu com alardes de
golpe de Estado. Análise do Brasil na década de 50 e no início da de 60
demonstra similitude dos discursos, em realidades diversas. Não há condições
para que tenham êxito os algozes da democracia. O golpe de 1964 foi articulado
por industriais, por banqueiros, por proprietários rurais e pelo capital
internacional. A intervenção militar com apoio das lideranças políticas
conservadoras foi apenas o desfecho das pretensões do capital. Próceres da
política aparentemente democráticos também tinham interesse no afastamento dos
trabalhistas e da esquerda do poder e apoiaram o golpe empresarial-militar. Foi
o caso de Ulysses e JK. Tancredo, por ser parente de Vargas e compreender que o
poder que se toma com o auxílio das armas pertence ao dono delas, foi uma das
poucas lideranças do campo conservador que não aderiram ao golpe de 1964.
A UDN, partido formado por homens
letrados ligados ao capital, não conseguia hegemonia pela via democrática. Daí
suas reiteradas tentativas de golpe, dentre eles o apoio ao Manifesto dos
Coronéis em 1953, que levou à queda de Jango do Ministério do Trabalho depois
de aumento do salário mínimo; a República do Galeão, que propiciou o suicídio
de Vargas, em 1954; a tentativa de impedir a posse de JK em 1955; as revoltas
na Aeronáutica em Jacareacanga em 1956 e em Aragarças em 1959; os entraves à
posse de Jango em 1961, até o 1º de abril de 1964. Todas demonstraram que o
compromisso da classe dominante com as instituições subsiste enquanto
contemplados seus interesses.
Naquele período havia ameaça real aos
interesses do capital, ante compromissos populares de Brizola e Jango. Os
projetos — educacional com Darcy Ribeiro, de desenvolvimento do Nordeste com
Celso Furtado, de erradicação da fome com Plínio Sampaio, de reforma agrária
com João Pinheiro e Almino Afonso — se direcionavam no sentido da emancipação
popular e descontentavam a classe dominante.
Agora, não. Nunca os bancos ganharam
tanto dinheiro; a dívida é regiamente paga, com o sacrifício dos direitos dos
trabalhadores; os empresários se fartam com verbas do BNDES, ainda que a crise
tenha reduzido a farra; as empresas de comunicação continuam a receber verbas
de publicidade, ainda que queiram mais; o capital internacional, volátil, não
tem controle, e os serviços públicos foram privatizados para satisfação dos
empresários. Os discursos do ex-presidente FHC, de Aécio Neves e de Roberto
Freire em favor do golpe é conversa fiada de quem precisa da mídia para ter a
existência lembrada. Não vai ter golpe!
Publicado originariamente no jornal O
DIA, em 12/07/2015, pag. E6. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-07-11/joao-batista-damasceno-nao-vai-ter-golpe.html
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