As fundamentações apresentadas por deputados para a
autorização de abertura de processo de impeachment da presidenta Dilma, por
acusação de ‘pedalada fiscal’, e negativa de autorização para recebimento, no
STF, da denúncia apresentada pelo MP contra o acusado Temer, por corrupção, por
mais absurdas que pareçam, são adequadas.
Deputados votavam em nome de Deus, da família, da
nação, da pátria, do Brasil, do crescimento econômico, além de outros conceitos
abstratos e indeterminados. Conceituações abstratas escondem a situação
concreta: o presidente nomeou intermediário para receber propina. O
intermediário foi flagrado recebendo mala com R$ 500 mil, teve o mandato
cassado, devolveu o dinheiro e está preso. Os deputados deveriam analisar,
objetivamente, se o fato narrado é crime capaz de justificar processo. Mas a
maioria optou por considerações subjetivas.
Justificativas em nome de Deus podem ser sinceras.
Afinal, cada um constrói uma imagem de Deus a sua imagem e semelhança. Muitos
deputados devem imaginar Deus tão amoral quanto o são.
Os que invocaram a ordem econômica também devem
estar certos. Afinal, com a liberação do pagamento da verba das emendas, o que
não podem reclamar é do crescimento de seus patrimônios. Se os excluídos
continuarão excluídos e faltará dinheiro para programas, como o Bolsa Família,
para a Educação ou para os hospitais, pouco lhes importa. Suas economias
estarão mais robustas a partir do alinhamento com o Planalto.
Nada mais sincero que o discurso de um parlamentar
quando vota em nome da família. Claro que não é de todas as famílias. Mas de
suas famílias. O patrimonialismo se caracteriza por processo de apropriação do
bem público e somente a ganância e o desejo de propiciar adequada qualidade de
vida aos aos familiares e descendência justificam a acumulação pessoal. Mas,
também, vagos são os votos em nome do Brasil.
Afinal, que Brasil? O que tem sede ou o que vive da
seca? O que tem talher de prata ou o que voltou a passar fome? O dos trens da
alegria em Brasília ou o dos trens da SuperVia? O que aconteceu é que uns
milionários cansaram de brincar de democracia e pagaram aos deputados para
fazer uma estúpida classe média de pato, com direito à camisa amarela da CBF.
Publicado originariamente no jornal O DIA em
12/08/2017, pag. 8. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-08-11/joao-batista-damasceno-deus-patria-e-familia.html
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