Em 16 de
fevereiro de 2018 foi decretada intervenção nos órgãos de segurança do Rio de
Janeiro e nomeado interventor, um general. Para secretário de segurança, outro
general. O site Congresso em Foco difundiu depoimento de um parlamentar
sobre a intervenção: “É uma intervenção decidida dentro de um gabinete, sem
discussão com as Forças Armadas. Nosso lado não está satisfeito. Estamos aqui
para servir à pátria, não para servir esse bando de vagabundos”, disse o então
deputado. No dia 14 de março, há um ano e dois dias, a vereadora Marielle
Franco foi executada. Os autores intelectuais e executores, pela ousadia,
contestaram a intervenção e o modo como se realizava. O crime teve jeito de
operação. Mas, isto foi ignorado. Uma desembargadora do Rio de Janeiro pôs-se a
difamar a memória de Marielle e – caluniosamente - disse que fora eleita por
facção criminosa, descumprira compromisso e que se tratava de acerto de contas.
A polícia num primeiro momento direcionou as investigações para criminosos
débeis, incapazes de tamanho atrevimento, que não deve ser visto como bravata
pessoal, mas violência institucional.
Os acusados da
execução da Marielle têm proximidade com atores políticos locais e nacionais,
tidos como porta-vozes dos militares radicais, da linha dura ou tigrada. Não se
pode – sem prévia investigação – acusar quem quer que seja de mandante ou
incitador da execução de Marielle Franco. Mas, aqueles que têm domínio sobre os
algozes das liberdades, sem compromisso com a dignidade humana e por isso são
capazes de executar os que acreditam não tenham direito de viver, podem ter
feito parte da operação objetivando radicalização da intervenção nas
instituições.
Esquadrão da
morte, mãos brancas, grupos de extermínio, justiceiros e milicianos não são
autônomos em suas condutas. Sem apoio do poder político ou do poder econômico
sucumbiriam no primeiro crime que cometessem. O que lhes garante a atividade
criminosa permanente são os anteparos que recebem e os tornam imunes à responsabilização.
A morte de Marielle tem jeito de operação pensada em escalões de comando, com
execução em esfera subalterna, por cães de aluguel, com a intermediação de quem
tenha trânsito nos dois mundos. Se os acusados da morte da Marielle forem
efetivamente os autores, resta investigar sua motivação. Não convence que foi
ódio, por pessoa que sequer conheciam. Certamente houve um interesse maior no
crime, tal como nos crimes daqueles que tentavam boicotar o processo de
abertura política no início dos anos 80, até o dia em que uma bomba explodiu –
no Riocentro - no colo dos terroristas, matando um sargento e desnudando para o
país o que setores radicais do Exército faziam. O Exército passou o recibo da
conivência promovendo o sobrevivente, capitão terrorista, até o coronelato,
posto no qual se reformou para viver na Barra da Tijuca.
O governador
Witzel acerta ao dizer que os acusados podem fazer delação premiada. Esta
somente se admite para os superiores. Melhor será que as investigações
continuem e cheguem aos autores intelectuais sem a necessidade de delação. As
bombas na ABI, OAB, Câmara de Vereadores e do Riocentro não visavam aos que
mataram. Mas, às instituições democráticas. Os tiros que mataram Marielle e
Anderson podem ter tido o mesmo alvo.
Publicado originariamente no
jornal O DIA, em 16/03/2019, pag. 8. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2019/03/5626741-marielle-e-a-bomba-do-riocentro.html
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