Em meio à pandemia
provocada pelo coronavírus sentimo-nos a deriva. A princípio, as autoridades
federais disseram tratar-se de uma "gripezinha" e que se poderia
fazer tratamento precoce com remédios que indevidamente receitavam, sem
qualquer comprovação de sua eficácia. Ao contrário, com danosos efeitos
colaterais comprovados.
O Brasil tem a sexta
maior população do mundo. Mas é o primeiro em mortes por covid. A China e a
Índia têm seis vezes mais gente, seguidos pelos EUA, que têm quase o dobro, a
Indonésia e o Paquistão. Quase empatamos com a população da Nigéria, país africano com nossas características.
Todos têm menos mortes diárias que o Brasil.
A pandemia foi tratada
com descaso e os discursos oficiais, desde o registro do primeiro caso, são os
mais estapafúrdios. Em junho passado o ministro da Saúde disse que o Norte e
Nordeste representam o Hemisfério Norte, sofreram mais com a chegada do inverno
e que haviam passado por sua pior fase. Mas, a crise se agravou e no verão
pessoas morreram no Amazonas, por falta de oxigênio, cujo transporte não foi
providenciado pelo Ministro da Saúde, nomeado em razão de sua suposta
capacidade logística.
É um descalabro o que
estamos vivenciando. Em agosto de 2020 a Pfizer ofertou ao governo brasileiro
70 milhões de doses de vacina para entrega em dezembro. O governo não respondeu
à proposta que lhe fora feita. Em outubro o ministro Pazuello assinou protocolo
para aquisição de 46 milhões de doses de vacina da China, mas o presidente o
desautorizou e declarou que não a iria comprar e que quem a tomasse viraria
jacaré. Os ofícios do Instituto Butantan de julho, agosto e outubro de 2020,
ofertando vacina, foram ignorados pelo ministro da Saúde.
Somente a aquisição de
vacinas pelo Estado de São Paulo levou o governo federal a se mexer e pretender
adquirir antecipadamente da Índia. Mas, as autoridades indianas impediram a
ação midiática. O governo insiste em suas fake news. Enquanto Israel já vacinou
quase toda a sua população uma missão foi enviada aquele país, à custa do
erário, para avaliar um estudo de spray. Brincam com a vida humana. Desprezam a
vida dos vulneráveis.
Cloroquina, remédio para
verme e aplicação de ozônio era o que se ofertava enquanto se debochava dos que
morriam. “É uma gripezinha”, “Todos vamos morrer um dia”, “E daí?”, “Não sou
coveiro”, “Vacina? Eu não vou tomar. Se você tomar vacina e virar jacaré não
tenho nada a ver com isso”. Estas foram as pérolas contidas nas manifestações
do chefe da administração federal. Com o atingimento de duas mil mortes diárias
o presidente ainda declarou: “Chega de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.
A mãe ou pai que perde
um filho chorará a vida toda. Um filho que perde um dos pais, também. Foi
preciso que a justiça proferisse decisão retomando o rumo da legalidade para
que o presidente cessasse suas aleivosias e aparecesse usando máscara e um dos
zeros declarasse apoio à vacinação.
A ideia, desde o começo
era provocar a imunização do rebanho, com sacrifício da vida dos idosos e
pessoas com comorbidades. Estes desonerariam o SUS, aqueles a Previdência. O
Conselho Federal de Medicina participou do descalabro, autorizando remédios de
eficácia não comprovada. Mas, não se trata de genocídio. Genocídio é extermínio
deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou
religioso. Não é o caso. Mas, sem dúvida estamos diante de crime contra a
humanidade. E os autores, por ação ou omissão, estão sujeitos ao Tribunal Penal
Internacional.
Publicado originariamente em 13/03/2021 no jornal O DIA. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2021/03/6102933-joao-batista-damasceno-vao-ficar-chorando-ate-quando.html
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