Ontem, dia 26 de julho,
completaram-se 104 anos do nascimento do economista Celso Furtado, um dos mais
destacados intelectuais do Brasil do século XX. Celso Furtado nasceu em Pombal,
quarta cidade mais antiga do Estado da Paraíba e foi o primeiro brasileiro
indicado para o Prêmio Nobel de Economia.
Celso Furtado graduou-se em Direito
pela UFRJ e doutorou-se em Economia na Universidade de Paris-Sorbonne. Integrou
a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações Unidas que
se analisava os aspectos teóricos e históricos do desenvolvimento da América
Latina. No Rio de Janeiro presidiu o grupo que elaborou estudos sobre a
economia brasileira, que serviu de base para o Plano de Metas do presidente
Juscelino Kubitschek. Em seu pós-doutoramento na Inglaterra escreveu o livro
Formação Econômica do Brasil, publicado em 1959. A obra desde logo se tornou um
clássico.
No mesmo ano, no Governo JK, criou a
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e no Governo Jango foi
o primeiro Ministro do Planejamento do Brasil. Foi o idealizador do Plano
Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. Retornando à SUDENE buscou
implantar uma política de incentivos fiscais para investimentos na região.
Da concepção de Celso Furtado,
notadamente em decorrência de suas interlocuções na CEPAL, depreende-se a
análise da estrutura produtiva de cada período histórico da sociedade
brasileira, voltando-se para as relações da economia nacional com a economia internacional,
num contexto de desigualdade entre países centrais, industrializados, e países
periféricos, agrícolas. E foi para romper esta infame dependência que entrou em
ação.
O Golpe empresarial-militar foi uma
interrupção no desenvolvimento do Brasil e rompimento com uma política voltada
à soberania nacional. A tentativa de golpe que levou o presidente Getúlio
Vargas ao suicídio, em 24/08/1954, há 70 anos, foi adiada para o dia
01/04/1964. Enrolados em bandeiras do Brasil os entreguistas executaram projeto
de interesse dos países centrais do capitalismo, notadamente os EUA. A abertura
dos arquivos estadunidenses nos permite conhecer a trama que se urdiu contra os
brasileiros, a fim de mantê-lo como país subdesenvolvido exportador de produtos
agrícolas, minérios brutos e produtos semielaborados ou produzidos sob licença
de patentes estrangeiras.
Portanto, dependente dos países
centrais do sistema. No dia 09 de abril de 1964, mesmo que um fantoche ocupasse
formalmente a presidência da República, os três ministros militares – que
exerciam de fato o poder - editaram o Ato Institucional nº 1 (AI-1) e incluiu
Celso Furtado na primeira lista de cassação de direitos políticos. Exilado,
Celso Furtado permaneceu no exterior até o início da redemocratização. Foi
professor e pesquisador em universidades dos EUA, da Inglaterra e da França.
Viajou a diferentes países do mundo em missões da ONU. Com a redemocratização
foi nomeado Embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia,
mudando-se para Bruxelas e foi ministro da Cultura. À frente do Ministério da
Cultura, criou a primeira legislação de incentivos fiscais à cultura.
Posteriormente retomou a vida
acadêmica e participou de diferentes comissões internacionais, como a Comissão
Sul, a Comissão Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento, da ONU/Unesco, e a
Comissão Internacional de Bioética.
Em 1997 foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras, ocupando a cadeira antes ocupada por Darcy Ribeiro, autor
da vigente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para quem o malogro
da educação no Brasil não é fracasso; é projeto.
Por sua formação, Celso Furtado foi um dos que mais buscaram o conhecimento do funcionamento e da expansão das corporações multinacionais, o que lhe permitiu concluir sobre os distintos papeis reservados aos países centrais do capitalismo e aos países periféricos do mesmo sistema. Ele faz parte dos pensadores brasileiros que interpretam o subdesenvolvimento como uma forma de organização social no interior do sistema, ao contrário dos que acreditavam haver etapas a serem superadas para atingirmos o mesmo nível dos países centrais, como podem sugerir termos como “país em desenvolvimento” ou “país emergente”.
A estrutura do sistema demanda a existência de países subdesenvolvidos. Estes, segundo Celso Furtado, tiveram uma industrialização dependente dos países já desenvolvidos.
Assim, o subdesenvolvimento jamais
poderia ser superado sem uma forte intervenção estatal, mesmo que sem uma
transformação do sistema produtivo por completo, bastando um redirecionamento
da política econômica e social do país que leve em conta o verdadeiro
desenvolvimento social. A Revolução de 30, com Getúlio Vargas, industrializara
o país porque decidira controlar o excesso da produção, por meio de sua
aquisição, controlar o preço da venda dos produtos internacionalmente e com o
resultado instalar indústrias, substituindo as importações.
Não foi sem razão que os mesmos
entreguistas que há 70 anos levaram Vargas ao suicídio, há 60 anos cassaram os
direitos políticos de Celso Furtado e o mandaram para o exílio. Os entreguistas
estavam a serviço do capital internacional em prejuízo do povo brasileiro.
Publicado originamente no jornal O DIA, em 27/07/2024, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2024/07/6888631-joao-batista-damasceno-celso-furtado-e-o-subdesenvolvimento-programado.html
Todas as pessoas na nossa atormentada história q quiseram o bem do Brasil foram perseguidas.
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