“A redemocratização
juntou opositores de primeira hora e toda a canalha descontente com o regime
que ajudara a instituir. Mas o saldo foi a manutenção da estrutura do regime,
inclusive o aparato repressivo. A bomba no Instituto Lula decorreu de ação de
grupos que jamais foram desarticulados. E nenhuma investigação apurará a
autoria. Afinal, quem apura tais crimes compõe os mesmos órgãos do Estado que
os comete. A prisão de José Dirceu serviu para sepultar o assunto. Sem adequada
cobertura da mídia, fica garantido o acobertamento”.
Dia 11 rememoraremos quatro anos da morte da juíza Patrícia Acioli e, no dia 22, os 39 anos da morte de Juscelino Kubitschek. O aparato repressivo do Estado aperfeiçoou-se durante a ditadura empresarial-militar, e seu pior tentáculo foi o paramilitar, integrado pela ‘linha dura’ do regime, que se notabilizou como esquadrões da morte, não desativados com a redemocratização.
A abertura política não foi imposição
dos grupos que se opuseram ao regime, mas dele próprio que se esgotou.
Dissidentes ajudaram na transição. Para a abertura, o regime eliminou quem
pudesse se opor. Daí serem emblemáticas as mortes dos três líderes da Frente
Ampla no mesmo período: Juscelino em 22 de agosto de 1976; Jango em 9 de
dezembro e Carlos Lacerda em 21 de maio de 1977. Há dúvidas sobre a causa de
tais mortes. Somente Moniz Bandeira afirma categoricamente que Jango morreu de
causa natural. Se for para fazer suposições, prefiro as que relacionam as
mortes dos líderes da Frente com a ordem documentada para o extermínio da direção
do Partido Comunista, visando a assegurar o controle da abertura política em
forma “lenta, gradual e segura”.
O general-presidente Geisel atendia
às pressões estadunidenses para abertura, mas não sem a oposição dos
torturadores que no governo Médici dominaram as instalações militares. A
redemocratização aconteceu sob bombas nas bancas de jornal, na ABI, na OAB e na
Câmara do Rio, colocadas por membros das gloriosas Forças Armadas que a ela se
opunham. A mais emblemática foi a do Riocentro, explodida no colo do terrorista
oficial, mantido no Exército até o posto de coronel, no qual se reformou.
A redemocratização juntou opositores
de primeira hora e toda a canalha descontente com o regime que ajudara a
instituir. Mas o saldo foi a manutenção da estrutura do regime, inclusive o
aparato repressivo. A bomba no Instituto Lula decorreu de ação de grupos que
jamais foram desarticulados. E nenhuma investigação apurará a autoria. Afinal,
quem apura tais crimes compõe os mesmos órgãos do Estado que os comete. A prisão
de José Dirceu serviu para sepultar o assunto. Sem adequada cobertura da mídia,
fica garantido o acobertamento.
Publicado originariamente no jornal O
DIA, em 08/08/2015, pag. E6. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-08-08/joao-batista-damasceno-as-bombas-no-riocentro-e-no-instituto-lula.html
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