“Igrejas
podem abrigar organizações com finalidades diversas, inclusive crimes contra o
Estado ou a sociedade. O golpe que se opera no Brasil é formulado pelas elites
e empresas de comunicação orientadas contra o povo, apoiadas pelo obscurantismo
restante dos anos de chumbo e daqueles que cresceram sob suas asas. O futuro
não é promissor. Poder político orientado por religiosos oportunistas e
herdeiros dos porões da ditadura é o vale da sombra da morte”.
Evitando
as guerras religiosas que devastaram a Europa, os portugueses não admitiram —
por razão de Estado — em seu território outra crença que não a fé católica.
Prevenindo conflitos, o Marquês de Pombal expulsou do Brasil os jesuítas em
1759, não sem premiar outras ordens para se aquietarem diante do martírio de
seus irmãos, e anexou significativa parcela das regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste à colônia. A relação do Estado e Igreja no Brasil sempre foi
permeada por tensões e partilha de interesses.
No período Vargas, momentos de tensões e concessões
entre Estado e Igreja se alternaram, tal como quando da edição de uma Lei de
Divórcio por Getúlio Vargas — a fim de possibilitar que Amaral
Peixoto (sogro de Moreira Franco, que é sogro de Rodrigo Maia) se casasse com
sua filha Alzira Vargas. Homologado o divórcio, a lei foi revogada, e o assunto
caiu no esquecimento. A Igreja quase sempre apoiou, taticamente, os projetos
conservadores do Estado, que também eram seus, embora com distintos objetivos
estratégicos.
Em 1964, a Igreja estava ao lado dos golpistas. Mas
deles se distanciou e se tornou principal opositora. Os golpistas buscaram
apoio na ala mais conservadora católica e no seio protestante, onde
não faltaram concessões de rádio e televisão, apoio às denominações
tradicionais e auxílio aos neopentecostais da teologia da prosperidade para
cultos eletrônicos e de massa inspirados em Billy Graham.
O
militar Paulo Leivas Macalão, um dos principais divulgadores das Assembleias de
Deus no Brasil, fundador da Assembleia de Deus de Madureira e compositor da
maioria dos hinos da Harpa Cristã, rendeu-se à Vila Militar. A supremacia dos
senhores do porão afastou daquela igreja os sucessores do fundador.
Contemporanemente o templo andou frequentado por Eduardo Cunha e Michel Temer.
Igrejas podem abrigar organizações com finalidades
diversas, inclusive crimes contra o Estado ou a sociedade. O golpe que se opera
no Brasil é formulado pelas elites e empresas de comunicação orientadas contra
o povo, apoiadas pelo obscurantismo restante dos anos de chumbo e daqueles que
cresceram sob suas asas. O futuro não é promissor. Poder político orientado por
religiosos oportunistas e herdeiros dos porões da ditadura é o vale da sombra
da morte.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
19/11/2016, pag. 14.
Nenhum comentário:
Postar um comentário