Enquanto as
autoridades federais implementam política que pode ocasionar dezenas ou
centenas de milhares de mortes, em pequeno lapso de tempo, algumas autoridades
estaduais e municipais têm buscado minimizar os efeitos danosos da escolha
feita no âmbito federal.
Não é a oposição
político-partidária que contrasta as opções dos entes da federação. É o tipo de
projeto de cada um. A estratégia federal é a da “imunidade coletiva”,
permitindo que a população se contamine em massa para que os sobreviventes
voltem a trabalhar e produzir. Esta estratégia, desumana, voltada apenas para o
lucro do empresariado, nunca foi implementada com sucesso em nenhum país e
causa riscos de colapso do sistema de saúde. A segunda opção, com razões
humanitárias, propõe tornar a propagação do vírus mais lenta e proteger o sistema
de saúde de uma sobrecarga.
As medidas
recomendas para evitar que todos se contaminem ao mesmo tempo são
distanciamento social, quarentena (isolamento social) ou lockdown. O
distanciamento social é uma estratégia de isolamento que restringe o contato
entre pessoas, com deslocamentos apenas quando necessários. Isolamento social
ou quarentena é meio restritivo da liberdade de locomoção e é medida necessária
para os que apresentem sintoma, estejam infectados ou para pessoas advindas de
lugares acometidos do surto epidemiológico. O isolamento pode ser demandado
como prevenção de contágio ou para evitar a difusão de doença. Lockdown é o
bloqueio de todas as atividades não essenciais. É interdição de toda atividade que
não seja extremamente necessária à manutenção da vida e da saúde. O lockdown é
medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), diante de casos
graves de pandemias sobre as quais se tenha perdido controle.
No presente
momento, o foco das medidas sanitárias não é, em si, a transmissibilidade do
vírus causador da Covid-19. O principal objetivo é logístico, procurando evitar
a concorrência por leitos e respiradores.
Reduzindo a
velocidade de propagação da doença, os órgãos de saúde podem ganhar tempo para
equipar os serviços e qualificar equipes com os condicionantes mínimos de
funcionamento: leitos, respiradores, EPIs, testes laboratoriais e recursos
humanos.
Mas, as medidas
acima somente serão tomadas se houver objetivo de evitar a aceleração
descontrolada da doença. Se o objetivo das autoridades federais for o
darwinismo social, implicando eugenismo e genocídio, pelo qual se possibilita a
maciça difusão da doença e morte daqueles que a ela não resistirem, nenhuma das
medidas será tomada. Assim, sobreviverão apenas os mais fortes e capazes para o
emprego nas atividades econômicas.
No Rio de Janeiro
as redes estadual e municipais chegaram ao limite de leitos e vagas nas UTIs.
Assim, não se compreende a negativa do governo federal em liberar os leitos dos
hospitais federais. Talvez o projeto seja efetivamente deixar a parcela não
produtiva da sociedade morrer, para economizar com despesas do SUS e
previdência social. Mas, o ser humano não pode ser visto apenas por sua
capacidade de produzir e consumir. Já passou da hora do governo federal liberar
todas as vagas existentes nos hospitais federais, inclusive hospitais
militares. É incompreensível que em tempo de paz tenhamos uma rede de hospitais
custeados pelo erário público para cuidados exclusivos dos servidores públicos
militares. É perverso que tenhamos uma rede ociosa quando a sociedade demanda
de tais recursos. Mais que um crime de responsabilidade capaz de impeachment, o
boicote do governo federal à vida dos fluminenses é crime contra a humanidade e
o sujeita a julgamento no Tribunal Penal Internacional. Que todos tenham vida e
que a tenham em abundância.
*Jesus morreu, de
coronavírus. Jornalista, cineasta, teatrólogo, morreu ontem Jesus Chediak.
Nelson Rodrigues o chamava de "Jesus, figura diabólica". Era diretor
cultural da ABI. Choremos por nós, que ficamos sem ele.
Publicado
originariamente no jornal O DIA, em 09/05/2020. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2020/05/5912990-joao-batista-damasceno--as-vagas-bloqueadas-nos-hospitais-federais.html
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