sábado, 9 de maio de 2020

As vagas bloqueadas nos hospitais federais


Enquanto as autoridades federais implementam política que pode ocasionar dezenas ou centenas de milhares de mortes, em pequeno lapso de tempo, algumas autoridades estaduais e municipais têm buscado minimizar os efeitos danosos da escolha feita no âmbito federal.

Não é a oposição político-partidária que contrasta as opções dos entes da federação. É o tipo de projeto de cada um. A estratégia federal é a da “imunidade coletiva”, permitindo que a população se contamine em massa para que os sobreviventes voltem a trabalhar e produzir. Esta estratégia, desumana, voltada apenas para o lucro do empresariado, nunca foi implementada com sucesso em nenhum país e causa riscos de colapso do sistema de saúde. A segunda opção, com razões humanitárias, propõe tornar a propagação do vírus mais lenta e proteger o sistema de saúde de uma sobrecarga.

As medidas recomendas para evitar que todos se contaminem ao mesmo tempo são distanciamento social, quarentena (isolamento social) ou lockdown. O distanciamento social é uma estratégia de isolamento que restringe o contato entre pessoas, com deslocamentos apenas quando necessários. Isolamento social ou quarentena é meio restritivo da liberdade de locomoção e é medida necessária para os que apresentem sintoma, estejam infectados ou para pessoas advindas de lugares acometidos do surto epidemiológico. O isolamento pode ser demandado como prevenção de contágio ou para evitar a difusão de doença. Lockdown é o bloqueio de todas as atividades não essenciais. É interdição de toda atividade que não seja extremamente necessária à manutenção da vida e da saúde. O lockdown é medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), diante de casos graves de pandemias sobre as quais se tenha perdido controle.

No presente momento, o foco das medidas sanitárias não é, em si, a transmissibilidade do vírus causador da Covid-19. O principal objetivo é logístico, procurando evitar a concorrência por leitos e respiradores.

Reduzindo a velocidade de propagação da doença, os órgãos de saúde podem ganhar tempo para equipar os serviços e qualificar equipes com os condicionantes mínimos de funcionamento: leitos, respiradores, EPIs, testes laboratoriais e recursos humanos.

Mas, as medidas acima somente serão tomadas se houver objetivo de evitar a aceleração descontrolada da doença. Se o objetivo das autoridades federais for o darwinismo social, implicando eugenismo e genocídio, pelo qual se possibilita a maciça difusão da doença e morte daqueles que a ela não resistirem, nenhuma das medidas será tomada. Assim, sobreviverão apenas os mais fortes e capazes para o emprego nas atividades econômicas.

No Rio de Janeiro as redes estadual e municipais chegaram ao limite de leitos e vagas nas UTIs. Assim, não se compreende a negativa do governo federal em liberar os leitos dos hospitais federais. Talvez o projeto seja efetivamente deixar a parcela não produtiva da sociedade morrer, para economizar com despesas do SUS e previdência social. Mas, o ser humano não pode ser visto apenas por sua capacidade de produzir e consumir. Já passou da hora do governo federal liberar todas as vagas existentes nos hospitais federais, inclusive hospitais militares. É incompreensível que em tempo de paz tenhamos uma rede de hospitais custeados pelo erário público para cuidados exclusivos dos servidores públicos militares. É perverso que tenhamos uma rede ociosa quando a sociedade demanda de tais recursos. Mais que um crime de responsabilidade capaz de impeachment, o boicote do governo federal à vida dos fluminenses é crime contra a humanidade e o sujeita a julgamento no Tribunal Penal Internacional. Que todos tenham vida e que a tenham em abundância.

*Jesus morreu, de coronavírus. Jornalista, cineasta, teatrólogo, morreu ontem Jesus Chediak. Nelson Rodrigues o chamava de "Jesus, figura diabólica". Era diretor cultural da ABI. Choremos por nós, que ficamos sem ele.



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