Uma
das armadilhas do comércio e da propaganda está em fisgar o consumidor pela
emoção. Embora nos entendamos racionais, as emoções influenciam nossas escolhas
mais que imaginamos. Durante a evolução humana as emoções vieram primeiro e
permaneceram conosco. As sensações, não raro, falam mais alto que o raciocínio.
Para decidir com menos esforço, nossa mente faz “atalhos”, reportando-se a
experiências passadas. Por vezes decidimos, emocionalmente, sob o impulso do
que nos remeteu a uma lembrança prazerosa ou para fugir de uma sensação
desagradável.
Pesquisas
qualitativas servem para orientar marqueteiros e induzir consumidores a
escolhas emocionais e imediatas, sem reflexão. Para evitar os abusos, as
agências de publicidade, os anunciantes e os veículos de comunicação
constituíram o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) e
os associados respeitam suas decisões. O Código de Defesa do Consumidor proíbe
propaganda enganosa e impõe que a publicidade integre o negócio. Propaganda é
cláusula do contrato em favor do consumidor.
As
escolhas dos consumidores podem ser emocionais, assim como as escolhas
políticas. Quem faz escolha racional facilmente se corrige quando erra.
Diversamente é quem faz escolha emocional. Contra a escolha emocional não há
como argumentar racionalmente. Daí a dificuldade de convencer uma pessoa que
fez escolha emocional, de que atuou contra o seu interesse individual, da sua
coletividade ou da classe a que pertença.
Em
outubro de 2005 o Brasil realizou um referendo sobre a proibição da
comercialização de armas de fogo e munições. A sociedade brasileira não aprovou
o artigo do Estatuto do Desarmamento que proibida a comercialização de arma de
fogo. O dispositivo legal foi rejeitado por 59 milhões de eleitores (63,94%)
enquanto foi aprovado por apenas 33 milhões (36,06%). Foi uma votação com um
dos menores índices de votos brancos (1,39%) e nulos (1,68%) da história
recente da República. Ao contrário do que aconteceu no plebiscito de 1993, não
foi possível votar fora de domicílio eleitoral e os brasileiros que viviam no
exterior não puderam participar, pois não houve votação nas representações
diplomáticas brasileiras.
O
noticiário do mundo cão, a propaganda de que a defesa pessoal é possível a
todos independentemente de preparo, a difusão da cultura do medo e outras
medidas que fundamentaram as escolhas levaram a sociedade àquela decisão. A
sociedade brasileira votou contra o dispositivo do Estado do Desarmamento, mas
as forças políticas e as instituições ignoraram o resultado. O Estado atuou em
sentido contrário à vontade popular e manteve a criminalização da conduta
vencedora no referendo. Pouca gente percebeu, com o resultado do referendo, a
característica violenta da sociedade brasileira, forjada com o genocídio dos
povos originários e escravização dos africanos. Em outras questões a opinião e
os interesses das camadas populares foram negligenciados e disto decorreu a
insatisfação que as tornaram presas fáceis do fascismo em ascensão, concepção
política que atua com a insatisfação popular e escolhas emocionais, onde é
difícil o convencimento com a racionalidade.
Em
momento no qual um vírus nos coloca a todos em quarentena, não nos questionamos
o que foram os vírus trazidos da Europa na época da colonização e que
exterminaram parte da população originária. Sem exercício da razão, há os que
negam o perigo, apesar do crescente número de mortos pelo mundo. O grupo que
governa o Brasil é apenas o subproduto da cultura da classe dominante
brasileira, sequioso apenas por lucro. A difusão de fake News e a
desqualificação da informação de qualidade são apenas meios de dificultar a
reflexão
Publicado
originariamente no jornal O DIA, em 25/04/2020. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2020/04/5905011-joao-batista-damasceno--arminha-e-fake-news-e-escolhas-emocionais.html
Excelente artigo Dr Damasceno!
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