Há 100 anos o fascismo
iniciou sua escalada na Itália. No ano de 1920, na Itália, uma greve geral de
mais de dois milhões de trabalhadores demonstrava a situação caótica vivida no
país. No campo, os camponeses sulistas exigiam a realização de uma reforma
agrária. Nos centros industrializados as reivindicações dos trabalhadores
despertaram o temor dos setores médios da sociedade italiana, da burguesia e
dos conservadores em geral. No contexto dos conflitos sociais e econômicos um
grupo de milicianos, liderados por Benito Mussolini, desfilava pelas ruas em
motocicletas afrontando a civilidade e apregoando o uso da força como solução
dos problemas que se vivenciavam.
A força miliciana conhecida
como “camisas negras” ganhou bastante popularidade em meio às contendas
nacionais. Os fascistas não se apresentavam como um problema nacional, mas como
solução. Em outubro de 1922, os fascistas realizaram a Marcha sobre Roma. A manifestação,
que tomou as ruas da capital italiana, exigia que o rei Vitor Emanuel III
passasse o poder para as mãos do Partido Nacional Fascista. Embora fossem
minoria, os fascistas exigiam a direção do governo, sob pena de tumultuarem a
vida institucional do país. Empresários e latifundiários queriam lucro e
sossego e por isso concordaram em autorizar o rei a entregar o governo a
Mussolini.
Entre 1922 e 1924, Benito
Mussolini governou de forma conciliatória, não se sobrepondo ao poder do rei
Vítor Emanuel III, o que não agradou a muitos dos membros do Partido Nacional
Fascista, que queriam a instalação de uma ditadura. No governo Mussolini havia
os ministros oficiais, mas a gestão de fato era exercida por gabinete paralelo.
Em janeiro de 1923, as milícias fascistas foram transformadas na Milícia
Voluntária de Segurança Nacional. Armas e motocicletas eram os equipamentos da
milícia fascista em suas atuações extravagantes.
Em 1924 ocorreram eleições
parlamentares na Itália e em meio a espancamentos e fraudes, os fascistas
conseguiram dois terços das cadeiras do Parlamento. Numa das primeiras sessões
do novo Congresso, em maio de 1924, o deputado socialista Giacomo Matteotti fez
um discurso apresentando provas das inúmeras irregularidades durante as
eleições, exigindo sua anulação. Os negacionistas retrucavam dizendo que era
esperneio de perdedor. Poucos dias depois, Matteotti foi sequestrado e somente em
agosto seu cadáver foi encontrado.
Diversos grupos antifascistas
lançaram manifestos culpando Mussolini e os milicianos a ele ligados pelo
assassinato do deputado Matteotti, o que só fez aumentar a violência das
milícias fascistas, que aproveitavam da situação para pressionar o governo a
acelerar a implantação da ditadura. A fragilidade das instituições não
conseguiu responder quem mandou matar Matteotti. Mas os indícios apontavam que
os criminosos estavam na esfera pessoal do ditador e que o assassinato era uma
questão de natureza estritamente política.
Em meio à repercussão
internacional, um dos milicianos suspeitos da morte do deputado Matteotti foi
executado, levando a conjeturas sobre possível queima de arquivo e dificultando
apurações. Mussolini abriu caminho para o regime fascista na Itália com o
perdão a criminosos que atentaram contra as instituições e a outros que
assassinaram opositores do regime. Em janeiro de 1925, Mussolini discursou
diante da Câmara dos Deputados, assumindo a responsabilidade por todos os
acontecimentos passados, desafiando as instituições e seus adversários. Entre
1925 e 1926, com o apoio do rei, dos industriais, do Exército e da Marinha,
Mussolini promoveu uma ampla perseguição política, impondo o Partido Nacional
Fascista como partido único, e iniciando a ditadura fascista, em que ele era o
Duce (o guia) da nova fase política italiana.
Desde que assumira o poder em
1922, Mussolini já tomava ações no sentido de minar as instituições
representativas. O poder legislativo foi completamente enfraquecido por
subornos ou ameaças. As instituições do sistema de Justiça eram afrontadas e
desprestigiadas. No ano de 1926, um suposto atentado sofrido por Mussolini foi
a brecha utilizada para a fortificação do Estado fascista.
Instalada a ditadura, após
quatro anos da chegada ao poder, os fascistas fecharam os órgãos de imprensa.
Os partidos políticos, exceto o fascista, foram colocados na ilegalidade, os
“camisas negras” incorporaram-se às forças de repressão oficial e a pena de
morte foi legalizada. O Estado fascista, contando com tantos poderes, aniquilou
grande parte das vias de oposição política. Entre os anos de 1927 e 1934,
milhares de civis foram mortos, presos ou deportados.
O apelo aos jovens, à família
e ao sentimento patriótico, rememorando a grandeza do Império Romano, instigou
grande apoio ao regime. Em 1929, os acordos firmados com a Igreja no Tratado de
Latrão aproximaram ainda mais a população religiosa italiana ao regime
totalitário. O fascismo perdurou na Itália até o fim da Segunda Guerra Mundial,
mas muitos dos seus princípios remanescem na atualidade, com tentativas
esporádicas de ressurgimento.
Já se disse que os fatos e
personagens na história do mundo ocorrem duas vezes: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa. A história nos possibilita evitar os mesmos
erros dos nossos antepassados.
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