sábado, 29 de novembro de 2025

Escatologia política: o nome do fenômeno

Reagindo a vaias, enquanto discursava no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 2023, o ex-ministro do STF, Luís Roberto Barroso enfatizou o seguinte: "Saio daqui com as energias renovadas pela concordância e discordância porque essa é a democracia que nós conquistamos. Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas". A fala foi mal interpretada e não faltou quem acreditasse haver referência ao ex-presidente da República derrotado nas eleições de 2022 e, atualmente, cumprindo pena privativa de liberdade em regime fechado, em decorrência dos crimes tentados de Golpe de Estado e Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito.

O evento de 08 de janeiro de 2023, além de tentativa de golpe, foi o ápice de um processo degenerativo das relações sociais e institucionais que se acumulava desde a abertura política lenta, gradual e segura dirigida pelo general-presidente Ernesto Geisel e da anistia que impediu uma justiça de transição com responsabilização daqueles que transformaram os quartéis em centros de torturas, mortes e desaparecimentos dos opositores do regime empresarial-militar. Do trinômio memória-verdade-justiça temos apenas o esforço por memória e verdade, uma vez que a justiça foi sepultada pela autoanistia que os algozes das liberdades se concederam.

A transição para a democracia não compreendeu os quartéis. Nestes se mantem o adestrando das novas gerações para acreditarem na legitimidade da truculência da ditadura. Mas a degeneração institucional e social na qual estamos mergulhados não pode ser debitada exclusivamente ao ex-presidente golpista. Trata-se de fenômeno mais profundo do qual o presidiário foi apenas o porta-voz momentâneo. Mesmo com o ícone defenestrado, o fenômeno incivilizatório se mantém em certos setores da sociedade e, sobretudo, nas casernas. Falta muita gente na Papuda, notadamente da elite militar.

O nome do fenômeno que desagrega as pessoas, inimiza familiares, converte templos religiosos em centros de doutrinação totalitária despidos de teologia e fé, rejeita a cultura, ataca as instituições democráticas, desrespeita a justiça, viola o Estado de Direito, reivindica para as Forças Armadas o papel de Poder Moderador, pede intervenção estrangeira no país, produz narrativa diversa dos fatos, abomina livros, desqualifica professores, deslegitima universidades, ofende gays, discrimina mulheres e negros, nega a ciência, afirma o terraplanismo, duvida da eficácia das vacinas e não demonstra compaixão ante doenças pandêmicas ou mortes não é bolsonarismo. O personagem é menor que o fenômeno. O personagem passará, mas o fenômeno poderá persistir com novos atores, para o horror daqueles que desejam uma sociedade justa, humana e igualitária.

O fenômeno incivilizatório que nos remete à barbárie não pode ser substantivado como bolsonarismo, nem como fascismo. Embora fascismo tenha multiplicidade de definições, todas estão associadas à historicidade da política europeia de 1919 a 1945. Tanto o fascismo italiano quanto sua vertente alemã, o nazismo, tinham em comum serem um sistema autoritário de dominação caracterizado pelo monopólio da representação política por meio de um partido único, de massa, hierarquicamente organizado e com uma ideologia fundada no culto a um chefe, na exaltação da coletividade nacional, no desprezo pelos direitos e garantias individuais e fundamentais próprios do liberalismo, no ideal de colaboração entre as classes sociais e na organização corporativa da sociedade. No fascismo, em suas diversas expressões, era clara a tentativa de organização da sociedade visando a uma socialização política planificada, com expansão imperialista. O quadro no qual estamos inseridos não tem estas características. Não é bolsonarismo, porque o personagem é pífio diante do fenômeno. Não é fascismo, porque não tem suas características. Trata-se de ‘escatologia política’ ou ‘escatologismo político’.

Escatologia é termo teológico sobre o fim do mundo e sobre o que se acredita possa ser o triste destino de parte da humanidade. Mas também pode expressar, no campo da biologia, o estudo científico sobre excrementos. Num ou noutro sentido, o termo designa degenerescência.

Vivemos tempo escatológico de exposição pública do que é bizarro, estranho, incomum ou extravagante. A ignorância ou estultice, que antes envergonhava, hoje é exibida com orgulho. O desprezo pela civilidade, que antes era escamoteado, hoje é exposto como troféu. Além dos dois sentidos já conhecidos para escatologia, podemos dizer que os novos tempos nos permite um terceiro sentido: ‘escatologia política’.

Assim, ‘escatologia política’ designa o fenômeno no qual estamos inseridos, com similar natureza a tudo que expressa decomposição. Cabe-nos transformar o que se apresenta deteriorado em fertilizante para a construção de um mundo fraterno com padrões de sociabilidade, humanidade e institucionalidade, tal como o adubo que pode ser assimilado pelas plantas para a produção de matéria viva.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 29/11/2025, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2025/11/7171541-joao-batista-damasceno-escatologia-politica-o-nome-do-fenomeno.html


domingo, 23 de novembro de 2025

A floração da Palmeira do Amor, que enfeita o Rio





 

No verão de 2020 algumas “palmeiras do amor” localizadas no Aterro do Flamengo floriram. Uma ficava perto da passarela da Marina da Glória e outras em frente ao antigo Hotel Glória, junto ao posto de gasolina. Eu as fiquei namorando. Fui visitá-las enquanto floriam. Durante os meses de janeiro e fevereiro de 2020 eu as visitei várias vezes na espera das sementes.

No início de março de 2020 eu vi que em pouco tempo teria as sementes desejadas. As flores estavam secando e caindo e as sementes que não vingaram já se desprendiam. O próximo passo seria a queda das sementes germináveis, o que poderia durar até um ano a contar do início da floração. Mas em 17 de março foi decretado o lockdown para evitar a propagação do coronavírus e fiquei confinado em casa. Não coletar.

A Palmeira Talipot ou Palmeira do Amor, cujo nome científico é Corypha umbraculifera, floresce apenas uma vez na vida e depois morre. Desta vez a floração foi na primavera. Há nove floridas no Aterro do Flamengo. Cinco estão pelo meio do Aterro, bem perto da praia. Três perto do posto de gasolina em frente ao antigo Hotel Glória e uma entre o Monumento dos Pracinhas e o MAM. Fui visitá-las. As copas carregadas de flores chamam a atenção. No alto das árvores, milhões de pequenas flores amareladas formam uma espécie de grande coroa. Duas delas, que floriram primeiro, já estão secando e soltando os frutos.

A espécie é nativa do sul da Índia e do Sri Lanka e foi introduzida no Aterro do Flamengo na década de 1960 pelo paisagista Roberto Burle Marx. A árvore é rara. E sua floração mais ainda. O motivo da raridade da floração é que demora de 40 a 70 anos para florescer. Antes da introdução no Aterro do Flamengo por Burle Marx, dois exemplares já haviam sido plantados no Jardim Botânico, e – também - floresceram nesta primavera.

O parque tem cerca de 70 palmeiras dessa espécie. Ao longo dos anos de 1960 foram plantadas mais de cem. Algumas palmeiras em floração foram vistas próximas ao MAM, em 1992. Ou seja, menos de 30 anos depois da inauguração do parque, em 1965. Burle Marx morreu em 1994, logo depois. Não chegou a ver a floração da palmeira plantada no seu sítio, em Barra de Guaratiba. Uma semana depois de sua morte ela iniciou o processo de floração.

A árvore pode atingir até 30 metros de altura o que equivale a um prédio de 10 andares. É um raro caso de morte admirada. A palmeira do amor fica bonita antes de se despedir da vida.

Hoje, peguei a bicicleta e fui ao encontro delas. Queria apenas localizá-las e calcular quando poderia apanhar as sementes. Ao chegar uma semente caiu sobre o capacete de ciclista que usava. Pronto! Tive a atenção chamada peça própria árvore de que já era tempo de coleta. Eu não conhecia a semente e fui apresentado da forma mais incomum. Como ameaçava chover tinha levado um saco plástico para proteger o aparelho celular. Deixei de lado a finalidade daquele invólucro e o enchi de sementes.

Enquanto coletava um senhor magro, barbudo e com roupas rotas e sinais de vida sofrida se aproximou e me perguntou se aquelas sementes eram comestíveis. Disse que não. Ele quis saber porque eu as apanhava. Disse que as plantaria e expliquei que árvore era e que somente em 50 anos ela floresce e depois morre. Disse que havia fotografado aquelas que estavam floridas e morriam e que plantaria as sementes para ver nova florada daqui a 50 anos. Ele riu e me disse que não era para ele, porque já tem 67 anos. Eu respondi que tinha mais de 60, mas que esperaria a florada. Afinal, não tenho pressa. Ele riu e me disse: “Se é assim, eu vou esperar também”. E partiu rindo.

Continuei a coleta. Umas senhoras acompanhadas de várias crianças e adolescentes passaram por mim. Era uma família típica da periferia que viera à praia e que a estava deixando porque o tempo se tornara nublado e ameaçava chuva. Um dos meninos se aproximou de mim e perguntou: Isto que o senhor está pegando se come? O menino, magro, olho fundo, tinha a expressão de uns 10 anos. Mas certamente tinha mais idade. O que eles desejavam é que aquilo fosse comestível. Imaginei que tinham fome. Bastou dizer que não era comestível e foram embora. Sequer tive tempo de falar da origem, beleza e outras características da Palmeia Talipot. Quem tem fome tem pressa e não pode parar por questão estética.

Brizola talvez tenha sido o governante que melhor entendeu este país. Ele sabia que tendo comida na escola as crianças não se tornam faltosas. Ao contrário, desejam frequentar até nas férias. Um político “de esquerda”, oposicionista dos CIEPS, tinha presença constante no noticiário de certa empresa de comunicação onde dizia que “escola não é restaurante”. Por ser um professor de história, atribuíam-lhe autoridade para criticar a alimentação escolar.  É verdade que escola não é restaurante, mas pela alimentação podem-se estabelecer vínculos de sociabilidade. E escola não se destina apenas a transmitir conteúdo.

Colhi algumas dezenas de sementes. Já tenho a informação do professor Danilo, coletor de semente que deu aula de ecologia para meu filho desde o jardim de infância, que não deve ser transplantada. É recomendável que seja semeada no recipiente que irá ser colocado na terra. Já busquei outras informações para aumentar a capacidade de germinação. Não me foi possível coletar há 5 anos, por causa do coronavírus, que me impôs reclusão, mas foi possível hoje. Daqui a 50 anos postarei novas fotos, com as floradas que advierem.

sábado, 15 de novembro de 2025

Marginalidade oficial, tráfico de drogas e terrorismo

Ante o bombardeio de barcos venezuelanos pelos EUA, um senador fluminense sugeriu ao governo Trump que igualmente bombardeasse a Baía de Guanabara. O antipatriotismo bárbaro propõe que potência estrangeira ataque a nossa soberania. Trump disse que para combater traficantes não é necessário declarar guerra ao país onde estejam. O presidente Lula contra-argumentou dizendo que os consumidores estadunidenses incentivam traficantes a lhes remeter drogas e que o problema naquele território deve ser resolvido entre eles: autoridades e consumidores estadunidenses.

Há um conluio contra a soberania do Brasil. A jornalista Malu Gaspar disse que o governador do estado do Rio de Janeiro entregou relatório ao embaixador dos EUA, prestando contas da chacina no Complexo da Penha, onde cerca de 130 pessoas foram mortas. Em tempo de guerra híbrida tal conduta implica colaboração com o inimigo. Nos EUA, similar comportamento implicaria prisão perpétua ou pena de morte. Quando juiz de Órfãos e Sucessões remeti ofício a diplomata estadunidense solicitando informações sobre eventuais herdeiros da viúva do antropólogo Darcy Ribeiro. O Cônsul Brendan Mullarkey remeteu-me a seguinte resposta:

O Consulado Geral dos Estados Unidos cumprimenta V. Exma. e vem pelo presente instrumento informar que sempre teve a honra de manter um canal aberto de comunicação e cooperação junto às autoridades judiciais do governo brasileiro. O Setor de Serviços a Cidadãos Americanos tentará procurar pelos supostos sucessores da senhora Jenny Simoza ou Genny Gleizer, que teria falecido em 1995 e irmã e única herdeira de Berta Gleizer Ribeiro. Todavia, temos que seguir regras restritas estipuladas pelo governo dos Estados Unidos com relação à liberação de informações sobre cidadãos norte-americanos, de acordo com a Lei de Privacidade dos Estados Unidos (Privacy Act). Sentimos, portanto, informar que, mesmo em se encontrando tais herdeiros, não poderíamos fornecer os endereços dos mesmos.”

Nem para receber herança as autoridades estadunidenses podem fornecer informação a autoridade estrangeira. Assim age um país soberano.

Vivemos momento de guerra híbrida, modalidade que combina táticas militares tradicionais com táticas não convencionais para desestabilizar países e governos, incluindo guerra de informação por meio da disseminação de desinformação e uso de redes sociais, ciberataques, pressão econômica e influência política visando à manipulação de processos eleitorais.

As guerras sofreram modificações estratégicas, fazendo surgir vários tipos, que se classificam por seus métodos: como convencionais, não convencionais, biológicas, químicas, nucleares, cibernéticas ou econômicas; pelo número de participantes ou finalidade: como civil, internacional, localizada ou total; bem como por suas características táticas: como guerrilha, preventiva, por procuração ou híbrida.

A guerra convencional utiliza forças armadas regulares e pode incluir táticas de guerrilha e conflitos assimétricos que fogem das regras convencionais. A guerra biológica usa bactérias ou vírus para causar doenças e mortes. Biológica e nuclear também são não convencionais. A guerra cibernética ataca os sistemas de informação, as redes e as infraestruturas digitais. A guerra econômica utiliza tarifas, bloqueios e o que mais possa enfraquecer o agredido.

A guerra fria caracterizou-se por conflito ideológico e geopolítico. Mesmo com a ausência de confronto militar direto, não foram poucas as guerras por procuração. Os EUA jamais declararam guerra ao Vietnã, mas forneciam, em seu proveito, meios humanos e materiais para o conflito.

A guerra híbrida conjuga uso de forças militares tradicionais, uso de forças irregulares, ataques digitais, ataques econômicos, ataque a sistemas de informação, disseminação de propaganda, fake News, apoio a movimentos políticos oposicionistas, uso de sanções ou agressões econômicas e lawfare caracterizado pela utilização estratégica do sistema judiciário para atacar adversários políticos.

O principal objetivo da guerra híbrida é desestabilizar um país ou derrubar um governo, sem a necessidade de um confronto militar direto. Ela busca explorar as vulnerabilidades de um país em proveito do agressor, combinando táticas militares, sociais e psicológicas.

A tentativa dos EUA de classificar como terrorismo a venda ilegal de drogas é parte da guerra híbrida, visando a possibilitar atuação aos que sejam considerados ameaçadores da sua segurança na região. Não há narcoterrorismo no Brasil. Uma das características do terrorismo é sua motivação ideológica. O comércio de drogas, seja no atacado pelos magnatas do negócio ou no varejo das favelas e periferia, é uma atividade ilegal que envolve violência, mas meramente comercial visando lucro. É crime, mas não é terrorismo.

Se o governador do estado do Rio de Janeiro entregou relatório ao governo dos EUA, estaremos, ao menos em tese, diante do crime tipificado no Código Penal como atentado à soberania, definido por ato de “negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País”.

Ao invés de tipificar o comércio de drogas ilegal como terrorismo o Congresso Nacional tem a incumbência de tipificar como crime contra a soberania nacional o ajuste de autoridades brasileiras com autoridades estrangeiras. É hora de limitar as colaborações e relações institucionais internacionais ao corpo diplomático da nação, sem prejuízo de interlocuções culturais, acadêmicas ou científicas. Para as relações institucionais temos os qualificados quadros funcionais do Itamaraty e o Ministério das Relações Exteriores.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 15/11/2025, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2025/11/7163526-joao-batista-damasceno-marginalidade-oficial-trafico-de-drogas-e-terrorismo.html

 


sábado, 1 de novembro de 2025

O presidente Lula e a invenção do traficante

 

A declaração do presidente Lula, na Indonésia, de que “Toda vez que a gente fala em combater as drogas, possivelmente, fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente” e que “os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, precisa ser contextualizada. Ele a fez ao ser questionado sobre afirmativa do presidente estadunidense Donald Trump, de que não é necessária declaração de guerra para matar traficantes de drogas. O governo Trump tem afundado barcos em águas do Caribe, próximo à Venezuela, dizendo estar mirando em traficantes de drogas. Embarcações afundadas podem ser de pescadores. A agressão que se pratica contra a Venezuela visa a criar um clima que favoreça uma intervenção armada e instituição de um governo subordinado aos interesses estadunidenses. A invasão do Panamá e sequestro do presidente Manuel Noruega, por ocasião da retomada do Canal do Panamá, é exemplificativa. A escalada de agressividade à Venezuela inclui autorização à Agência Central de Inteligência (CIA) para sabotagens, terrorismo ou eliminação física em território venezuelano.

A declaração do presidente Lula foi endereçada ao presidente Trump. Se drogas são enviadas aos EUA, há um problema com os cidadãos daquele país que os tem levado ao consumo. Qualquer livro de introdução à economia ensina que a oferta é pressionada pela demanda. Existindo consumidor que procura, haverá fornecedor que oferte. Não adianta oferta sem procura. Além do que, das mais de duzentas substâncias catalogadas e proibidas que alteram o metabolismo apenas três têm sido objeto da preocupação dos EUA: Maconha, coca e papoula. É questão de geopolítica. Sem se ocupar com os problemas no mercado interno, os EUA criminalizam a maconha para justificar pressão sobre o México, a cocaína para atuar da mesma maneira em relação à América do Sul e a papoula por seus interesses na Ásia. Nenhuma outra droga é objeto de preocupação do governo estadunidense. As drogas sintéticas produzidas em laboratórios nos EUA e Europa e que fazem o caminho inverso das drogas naturais, não são objeto de preocupação do presidente Trump. Tampouco ocorrem grandes apreensões em território estadunidense, o que enseja a suspeita de que os próprios órgãos governamentais traficam para aquele país, a exemplo do que a CIA e o Departamento de Estado fizeram no Caso Irã-Contras.

Tráfico, tráfego, trânsito, contrabando e descaminho são termos empregados sem preocupação com os significados. Enquanto trânsito é o mero deslocamento de um lugar para outro, o tráfego é o deslocamento com transporte lícito de coisa ou pessoa. Descaminho é a entrada ou saída de mercadoria do território nacional sem o pagamento de imposto. O muambeiro que traz mercadorias lícitas não é contrabandista. Seu crime é sonegação fiscal; pratica descaminho. No entanto, se a mercadoria for proibida o crime será de contrabando. Por isso, contrabando e tráfico internacional são sinônimos. Mas a política de guerra às drogas difundiu no imaginário social que tráfico é de pessoas, de órgãos ou de drogas. Para diferenciar dos demais criminosos que contrabandeiam mercadorias proibidas, pintaram a figura do traficante de drogas com as piores tintas.
O presidente Lula tem razão. Raramente dou razão a ele, notadamente porque seu discurso – em regra – não é compatível com sua prática. Brizola dizia que era como uma galinha que cacareja para a esquerda e põe o ovo para a direita e Darcy Ribeiro dizia que era a esquerda que a direita gosta. O registro do seu partido, com referência a classe social, contrariava a Lei dos Partidos Políticos vigente desde 1979.

No governo do general-presidente Geisel foi instituída a Operação Radar, visando à eliminação e desaparecimento de dirigentes e simpatizantes do PCB, razão dos assassinatos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, dentre muitos outros. A diferença de tratamento aos dois partidos somente é compreensível à luz da contradição entre o mundo do trabalho e o mundo do capital. As reivindicações de melhores salários e condições de trabalho, ainda que com emprego de greve ou ocupação de empresas, são toleradas pelo capital porque sugerem a conciliação de classes quando atendidas. Aqueles que foram eliminados fisicamente, antes da abertura política, tinham proposta mais radical, porque iam na raiz do sistema.
A criação da figura do traficante, expressão do mal dentre os demais contrabandistas, foi internalizada na lei brasileira em 1971, no governo do general-presidente Médici. Antes, o Código Penal, em seu artigo 281, não distinguia usuário e traficante e ambos eram igualmente criminosos. Em relação à entrada ou saída de drogas do território nacional, a lei se limitava a dizer que era crime importar ou exportar sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Em 1971, enquanto estimulava golpes militares na América do Sul, o presidente estadunidense Richard Nixon anunciou que as drogas eram o inimigo número um dos Estados Unidos. Com isso, criminalizou a população negra estadunidense, consumidora ou não, e estendeu seus tentáculos sobre a América do Sul. A partir desta declaração foi concebida a política conhecida como “guerra as drogas”. Sabujo dos interesses estadunidenses a ditadura empresarial-militar editou, em 28 de outubro de 1971, a lei 5724 que em seu artigo primeiro dizia que “é dever de toda pessoa física ou jurídica colaborar no combate ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica”.

Não há guerra às drogas. Há guerra a pessoas tratadas como indesejáveis e a países que não se subordinam aos interesses dos EUA.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 01/11/2025, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2025/11/7155374-joao-batista-damasceno-o-presidente-lula-e-a-invencao-do-traficante.html


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

STF, instituições e identitarismo

Quando aluno de Ciências Sociais, no IFCS/UFRJ, um colega afirmou em sala que as mulheres são mais sensíveis e melhores na direção das instituições. A professora, notável antropóloga brasileira, questionou a afirmativa: “Que pesquisa você fez que comprova sua hipótese?” Apesar de professora associada à Fundação Ford, instituição estadunidense que contribuía com a construção das bases ideológicas que afastavam a sociedade brasileira de referências opostas aos interesses estadunidenses, tinha honestidade intelectual. Em seguida, citou nomes de mulheres que exerceram poder com mão de ferro ou desumanidade.

A primeira a ser citada foi Margaret Thatcher, apelidada de “dama de ferro”, primeira-ministra do Reino Unido e cuja imagem até hoje é usada para amedrontar os eleitores britânicos que pensam em votar nos conservadores. Seguiram-se Golda Meir, Benazir Buttho, Imelda Marcos, Violeta Chamorro e outras.

Golda Meir foi primeira-ministra de Israel de 1969 a 1974. Embora as Cortes internacionais de justiça não a tenham condenado por crimes contra a humanidade e genocídio, não há quem deixe de lhe imputar tais crimes. Teria ordenado operações de caça e assassinato, pelo Mossad, de opositores do sionismo, seus familiares e membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), além de negar a possibilidade de existência do povo palestino. Benazir Bhutto, primeira-ministra do Paquistão de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996, foi figura emblemática do Partido Popular do Paquistão. Imelda Marcos, conhecida como "Borboleta de Ferro", exerceu várias funções ativas no governo das Filipinas. Foi governadora da região metropolitana de Manila, ministra dos Assentamentos Humanos, deputada na Assembleia Nacional e embaixadora extraordinária e plenipotenciária. Violeta Chamorro, oligarca dona de uma empresa de comunicação na Nicarágua, foi a expressão política dos Contras que lutavam contra a Frente Sandinista de Libertação Nacional, responsável por derrubar a ditadura de Anastasio Somoza. Foi eleita presidenta em 1990. Os Contras, guerrilha anti sandinista, e o jornal de Violeta Chamorro eram financiados pelos Estados Unidos, por meio da Central Intelligence Agency (CIA), com recursos advindos de tráfico de armas e drogas, no que ficou conhecido como Caso Irã-Contras. Órgãos e autoridades estadunidenses financiavam seus parceiros na Nicarágua com o produto da traficância. Violeta Chamorro não expressou a vitória de uma mulher na Nicarágua, mas dos interesses estadunidenses contra o povo nicaraguense. Pouco importava o gênero. O que os EUA precisavam era de fantoche que lhes garantisse a apropriação das riquezas daquele país.

Depois de falar sobre estrangeiras chefes de estado, a professora falou de Lygia Lessa Bastos e Sandra Cavalcanti, personagens femininas brasileiras cujas atuações políticas se caracterizaram pela desumanidade no trato com os direitos dos excluídos. A remoção das favelas e alocação dos seus moradores em lugares distantes, favorecendo a especulação imobiliária na Zona Sul do Rio de Janeiro, foi uma dessas políticas. Mas aconteceram coisas piores.

Atualmente, a premiação da venezuelana Maria Corina Machado com o Prêmio Nobel da Paz, ao invés de significar a luta de uma mulher pela democracia na Venezuela, tem o objetivo de preparar uma incursão militar dos EUA naquele país para subtrair seu petróleo. Sua premiação está a serviço do imperialismo e do colonialismo.

Em momento no qual os critérios identitários são propostos como fundamento para a próxima escolha para o STF, é relevante refletirmos sobre a questão. Será tal critério o que melhor atende aos interesses sociais ou pode servir para camuflar outros interesses? Que a sociedade manifeste seus desejos de representação é legítimo. Mas a pressão de membros de poder ou de empresas de comunicação é indevida ingerência na prerrogativa de escolha do presidente da República.

Quando da implicância desarrazoada com o Programa Mais Médicos, o humorista José Simão escreveu que pouco importava se o médico era Cubano, Venezuelano, Colombiano ou Boliviano. O que ele esperava é que o médico fosse humano. O Presidente Lula já caiu no conto do identitarismo, com acentuado custo para a sociedade. Que a indicação recaia sobre quem tenha compromisso incondicional: com os valores jurídicos próprios do Estado Democrático de Direito; com a realização substancial e não apenas formal dos valores, direitos e liberdades do Estado Democrático de Direito; com a defesa da independência do Poder Judiciário não só perante os demais poderes como também perante grupos de qualquer natureza, notadamente os econômicos e internos da magistratura representativos do patrimonialismo; com a democratização da magistratura, seja no ingresso, nas condições do exercício profissional e na ascensão funcional; com o fortalecimento das prerrogativas funcionais da magistratura de primeira instância, acessada por concurso; com a Justiça considerada como autêntico serviço público que, respondendo ao princípio da transparência, permita ao cidadão entender os mecanismos de seu funcionamento; com a promoção e a defesa dos princípios da democracia pluralista e a difusão da cultura jurídica democrática, bem como consciência de que a função judicante há de ser exercida para a proteção efetiva dos direitos da pessoa humana, individual e coletivamente considerada, notadamente os vulneráveis. Seja quem for com estas características, o presidente da República estará repetindo o virtuoso comportamento do presidente Afonso Pena quando indicou Pedro Lessa, conforme relato do ex-ministro do STF Paulo Brossard.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 18/10/2025, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2025/10/7147462-joao-batista-damasceno-stf-instituicoes-e-identitarismo.html

 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

CET-Rio interdita entorno do Maracanã para jogos e torna inviável funcionamento da UERJ. Cartolagem e negócios desportivos ou educação e ciência? Que opção há de fazer o Brasil?

CET-Rio interdita entorno do Maracanã para jogos e torna inviável funcionamento da UERJ. Cartolagem e negócios desportivos ou educação e ciência? Que opção há de fazer o Brasil?

E inadmissível o descompromisso com a educação neste país. Um jogo de futebol impede que alunos e professores tenham acesso a uma universidade. Já vivenciei situação de impedimento de chegada à faculdade e ter que voltar do ponto de interdição.

Isto é algo que o prefeito e o governador precisam se ocupar. Um jogo de futebol não pode impedir o funcionamento de uma universidade. Ou educação é mero discurso a se fazer em tempo de eleição?

A notícia publicada no site da CET-RIO é a seguinte:

CET-Rio preparou esquema especial de trânsito para jogo no Maracanã - Marcos de Paula/ Prefeitura do Rio

A CET-Rio montou um esquema de trânsito para o jogo entre Fluminense e Juventude, nesta quinta-feira (16/10), às 21h30, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro. A partir das 19h30 haverá interdições ao tráfego de veículos na região do estádio. E, além dos locais regulamentados com proibição de estacionamento, outras vias estarão restritas a partir das 10h.

A operação contará com agentes da CET-Rio e apoiadores, veículos operacionais e motocicletas que estarão empenhados na orientação do trânsito. E, ainda, no reforço das informações do trânsito, 13 painéis de mensagens variáveis informarão sobre os horários dos fechamentos e as rotas alternativas. Todo o conjunto é em prol da segurança viária, fluidez do trânsito, manutenção dos cruzamentos livres, como também na orientação dos pedestres, torcedores e motoristas.

Técnicos da CET-Rio no Centro de Operações Rio (COR) vão monitorar toda a movimentação do trânsito por meio das câmeras para que, se necessário, sejam feitos ajustes na programação semafórica com o objetivo de garantir as boas condições viárias.

 

Interdições

 

Das 19h30 (16/10) à 1h30 do dia seguinte (17/10)

– Rua Professor Eurico Rabelo

– Rua Artur Menezes Rua Conselheiro Olegário

– Rua Isidro de Figueiredo

– Rua Visconde de Itamarati, entre a Rua São Francisco Xavier e a Rua Professor Eurico Rabelo

– Avenida Rei Pelé, duas faixas no sentido Centro, entre a Avenida Professor Manoel de Abreu até a altura do Museu do Índio

– Avenida Maracanã, sentido Centro, entre a Rua São Francisco Xavier e a Rua Mata Machado

 

Das 23h10 (16/10) à 1h30 do dia seguinte (17/10)

– Avenida Professor Manoel de Abreu, sentido Centro, entre a Rua São Francisco Xavier e a Avenida Rei Pelé

– Rua Dona Zulmira, entre a Avenida Professor Manoel de Abreu e a Rua São Francisco Xavier

 

Proibição de estacionamento

Das 10h (16/10) à 1h30 do dia seguinte (17/10)

– Rua Professor Eurico Rabelo

– Rua Visconde de Itamarati, entre a Rua São Francisco Xavier e a Rua Professor Eurico Rabelo

– Rua Isidro de Figueiredo

– Rua Artur Menezes

– Rua Conselheiro Olegário

– Avenida Paula Sousa, lado esquerdo, entre a Rua São Francisco Xavier e a Rua Professor Eurico Rabelo

Rotas alternativas

Provenientes do Centro e Zona Sul

– Para a Tijuca: utilizar a Avenida Paulo de Frontin e Rua Dr. Satamini, ou seguir pela Praça da Bandeira, Rua Pará ou Rua Paraíba e, em seguida, Rua Mariz e Barros

– Para Vila Isabel e Grajaú: utilizar a Avenida Paulo de Frontin e Rua Dr. Satamini, ou seguir pela Praça da Bandeira, rua Pará ou Rua Paraíba, Rua Mariz e Barros e, em seguida, Rua Major Ávila e Rua Felipe Camarão

– Para a região do Grande Méier: utilizar a Rua Visconde de Niterói

Provenientes da Tijuca, Grajaú, Vila Isabel e entorno

– Para o Centro e Zona Sul: utilizar a Rua Conde de Bonfim e a Rua Haddock Lobo

Provenientes do Grande Méier

– Para o Centro e Zona Sul: utilizar a Rua Visconde de Niterói

 

Fonte: https://prefeitura.rio/cet-rio/cet-rio-monta-esquema-de-transito-para-jogo-do-fluminense-no-maracana-5/

 


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Popó, Wanderlei Silva, Neoliberalismo e barbárie

Ao longo da história as sociedades se organizaram com fundamentos em valores e princípios que lhes possibilitaram existir. Suas instituições tinham a função de referência de ordem e redutoras das incertezas do futuro. Chegamos ao século XX com a consciência de que a riqueza socialmente produzida precisava ser repartida e todos tinham o direito à participação na organização e destino da sociedade. O século XX foi a Era de Ouro do mundo do trabalho. Mas assistimos à derrocada de tal modelo e a vida se precariza.

As novas tecnologias dispensam massivos contingentes de mão de obra. A desregulamentação precariza as relações de trabalho e difunde-se a ideia de que cabe a cada um, por seus próprios meios, atingir seus objetivos. Tudo é desregulamentado, menos a propriedade. Tudo se transformou em mercadoria. Até a água teve sua natureza alterada. Desde 1997, no Brasil, água é bem econômico. Não mais é bem natural a todos acessível e sua captação não mais é livre.

O “Vale-Tudo” nos ringues foi renomeado de MMA. Mas ainda não há nome para designar o vale tudo nas relações sociais. Não é fascismo, evento que ocorreu na metade do século XX, nem é fenômeno que possa ser designado pela adjetivação do nome de indivíduo que simboliza a boçalidade. A selvageria que estamos revisitando está expressa na conduta de certos indivíduos, mas com eles não pode ser confundida. São bárbaros, mas não inventaram a barbárie. São incultos, mas não inventaram a ignorância. São negacionistas, mas não inventaram a irracionalidade.

Na semana passada a luta armada entre Popó e Wanderlei Silva, no Spaten Fight Night, foi exemplificativa do tempo no qual vivemos. O esporte, que é meio de exercício civilizado da violência própria da natureza animal do ser humano, foi igualmente afetado pelo desvalor que triunfa. Dois veteranos dos ringues, um no boxe, outro no MMA, nos deu a dimensão do fenômeno no qual estamos imersos. O boxe já foi proibido no Brasil, dada a sua lesividade e já teve negada sua natureza esportiva. O espetáculo, entre os gladiadores aposentados, patrocinado por uma cervejaria, não foi um evento esportivo. Tratou-se apenas de entretenimento para vender ingresso e gerar repercussão, tal como fazem-se nas rinhas de galo, lutas de cães ou arremesso de anão. Foi o espetáculo da barbárie contemporânea.

No ringue, um dos gladiadores ignorou as regras, cabeceou ilegalmente o oponente e acabou desclassificado. O vencedor foi aclamado por mera formalidade. Quem pagou para ver aquilo ou quem ficou acordado para assistir mereceu o que teve. Mas a bizarrice não acabou. As equipes dos gladiadores entraram em campo e ofertaram um aprimoramento da incivilidade: socos, chutes, empurra-empurra, nocaute depois do confronto, nariz quebrado, sangue e muito mais.

A rusticidade, com toda sua crueza, nos leva a refletir sobre as relações sociais no tempo presente, notadamente as relações que envolvem a política, a governabilidade e a administração do que é público. O evento era a própria desregulamentação da vida social demandada pelo anarcocapitalismo onde, tal como no Estado de Natureza, inexiste regra de bem viver e vale a lei do mais forte. O evento em si foi falso, não tinha qualquer importância, o primado foi o da violência injustificada e todos perderam, tanto os gladiadores, seus auxiliares e quem assistiu. Somente quem arrecadou na bilheteria pode se dizer ganhador.

O ministro Luis Roberto Barroso, do STF, acreditou termos vencido a incivilidade e a nomeou com adjetivo que é pouco para a definição. Precisamos de um nome. A lógica da luta tem o mesmo código do fenômeno que perpassa as atuais relações sociais: ignorância, violência, encenação, fake news e desprezo pelos valores civilizatórios. Já não é a sociedade do espetáculo. É o espetáculo do que é grotesco, ridículo, extravagante, da fanfarronice e da presepada sem base sólida que lhe dê sustentação, a não ser a polarização volátil em proveito de quem lucra.

O que se viu é corrosivo da civilidade. Não há vencedor nessas condutas, seja no ringue ou na arena política. Quem participa, assiste ou torce é um perdedor. Perdemos todos, pois tais condutas são as pás com as quais se cavam a sepultura do que a humanidade construiu ao longo da sua existência. O fenômeno no qual estamos mergulhados é corrosivo da civilidade e destrutivo da humanidade.

Os dois personagens e seus asseclas são a expressão do fenômeno que nos apavora. Aquele ringue era o extrato do pensamento social que permeia as relações atuais no Brasil. Se era boxe não tinha lugar para cabeçada nem chute. Mas como exigir respeito às regras se no vale tudo da vida social a norma é o golpe violador da regra, o desejo de anistia ou a redução da penalidade? Em carne e osso (embora fraturado) o estilo visto no ringue é o vigente na atualidade. Este é o esporte que o fenômeno ainda inominado difunde.

É o Vale-Tudo, onde o mais forte tritura o mais fraco. É o espetáculo da destruição sem pretensão de reconstruir algo que possa ficar no lugar. É a técnica do gafanhoto que a tudo devora e destrói. O mais estiloso é o que aplica o golpe mais baixo, tem a ignorância como metodologia e a terra arrasada como projeto a ser concluído. É possível dizer ao Wanderlei Silva: “Perdeu Mané! Mas relaxe! Com a difusão de tais modos incivilizados, perdemos todos. E perderemos muito mais se continuarmos por onde estamos indo. Perdoemo-nos! Anistiemo-nos! A anistia apaga tudo, para recomeçarmos do mesmo modo”.

 

Publicado originariamente no jornal O DIA, em 04/10/2025, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2025/10/7139644-joao-batista-damasceno-popo-wanderlei-silva-neoliberalismo-e-barbarie.html