“Participando do projeto ‘Diálogos
sobre direitos humanos’, organizado pela OAB-RJ, estive ano passado no
Caranguejo, favela acima do Pavão-Pavãozinho. Acima também da Favela Vietnã. É
o topo do morro e o ápice da pobreza. Ouvi o relato de uma mãe sobre a morte de
seu filho adolescente, após tortura e sobre a versão oficial de que “caíra do
muro”. Não me surpreendeu a nota da Polícia Civil de que as escoriações no
corpo de DG eram compatíveis com queda de muro. A versão era requentada. Já vi
versões mais fantasiosas. No Caso Juan, a perícia — desmentida por exame de DNA
— apontara que o corpo era de uma menina, e não do menino assassinado e jogado
numa lixeira longe de sua casa. Mas a mãe de DG não se intimidou e declarou que
seu filho tinha marcas de chutes nas costas e costelas, que não morrera pulando
muro, mas pelas mãos do Estado, e que seria um novo Amarildo não fosse a
comunidade, protetora e protestadora”.
A morte do dançarino Douglas Rafael,
o DG, é mais uma decorrente da política de ‘pacificação’ de quem pensa ser
possível construir a paz com a guerra. São raras as mortes por overdose. Mas, a
pretexto de cuidar da saúde pública combatendo o comércio e uso de drogas, o
Estado humilha e mata os pobres. A política de segurança de confronto aos
direitos humanos é um incentivo à atuação ilegal e formação de grupos
paramilitares que põe em xeque o Estado de Direito.
Denúncias de torturas, mortes e
desaparecimentos se acentuaram desde o início das ‘pacificações’. O Rio de
Janeiro é inovador em matéria de segurança pública desastrosa. Em 1958, o
general Riograndino Kruel criou o primeiro esquadrão da morte; no início dos
anos 60, Carlos Lacerda condecorou os ‘homens de ouro’ da polícia, e em 1994 o
então secretário de Segurança, general Nilton Cerqueira, acusado de matar
Carlos Lamarca, instituiu a ‘gratificação faroeste’, prêmio em dinheiro por
‘atos de bravura’: disparos, ferimentos ou mortes.
Participando do projeto ‘Diálogos
sobre direitos humanos’, organizado pela OAB-RJ, estive ano passado no
Caranguejo, favela acima do Pavão-Pavãozinho. Acima também da Favela Vietnã. É
o topo do morro e o ápice da pobreza. Ouvi o relato de uma mãe sobre a morte de
seu filho adolescente, após tortura e sobre a versão oficial de que “caíra do
muro”. Não me surpreendeu a nota da Polícia Civil de que as escoriações no
corpo de DG eram compatíveis com queda de muro. A versão era requentada. Já vi
versões mais fantasiosas. No Caso Juan, a perícia — desmentida por exame de DNA
— apontara que o corpo era de uma menina, e não do menino assassinado e jogado
numa lixeira longe de sua casa. Mas a mãe de DG não se intimidou e declarou que
seu filho tinha marcas de chutes nas costas e costelas, que não morrera pulando
muro, mas pelas mãos do Estado, e que seria um novo Amarildo não fosse a
comunidade, protetora e protestadora.
A ditadura empresarial-militar se
esmerou em falsificar versões e laudos. O assassinato de Vladimir Herzog, o
desaparecimento de Rubens Paiva e a bomba no Riocentro são exemplos do que é
capaz o Estado Policial. O Caso Amarildo demonstra como se fabricam versões e
se produzem provas para justificá-las. Quem parece tudo saber sobre segurança
pública não pode alegar desconhecer estes fatos.
Não apenas os facínoras que violam os
direitos do povo hão de ser responsabilizados, mas também os que autorizam. O
Ministério Público e o Judiciário podem se contrapor à violação aos direitos
humanos, pois seus papéis estão relacionados à garantia dos direitos; não são
partícipes da formulação de políticas públicas. Menos ainda quando atentam
contra a dignidade da pessoa humana, fundamento da República.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em 27/04/2014,
pag. 14. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2014-04-26/joao-batista-damasceno-douglas-seria-amarildo.html
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