“Com dinheiro
federal, decorrente de empréstimos a fundo perdido concedidos pelo BNDES, o
Estado e o Município do Rio de Janeiro — a serviço da Fifa — violaram direitos,
suprimiram liberdades, adotaram política higienista, expulsaram moradores de
rua para lugares distantes, derrubaram casas, removeram comunidades e
militarizaram as políticas públicas. Até o histórico prédio do Museu do Índio
correu o risco de demolição a pretexto de solicitação da Fifa, sob a
complacência do Judiciário; salvou-o a mobilização das populações originárias
com o apoio da sociedade.”
O Brasil perdeu feio da Alemanha na
tarde da última terça-feira por 7 a 1. Mas, na mesma tarde, também perdeu
Plínio de Arruda Sampaio, histórico militante das causas sociais e em prol dos
excluídos. Defensor das liberdades, teve os direitos políticos cassados após o
golpe empresarial-militar de 1964. Foi para o exílio e trabalhou na FAO, organismo
da ONU que se propõe a eliminar a fome no mundo.
A primeira vez que o ouvi falar da
fome no mundo fui conferir as informações e fiquei estarrecido, pois a falta de
comida mata mais que todas as epidemias e guerras. Mas, como acentuava, não
falta produção de comida. A produção mundial de alimentos é superior à
capacidade humana de consumo; o problema é o que se faz dela. Não se destinam
os alimentos produzidos aos pobres, mas ao lastro para o capital financeiro e
especulativo. Além disto, boa parte da produção de grãos, soja ou milho, se
destina à alimentação de gado. É a alegria do agrobusiness, em prejuízo da
alimentação humana.
Plínio se notabilizou por sua cruzada
contra a fome, nunca abriu mão das suas ideias e lutou intensamente pelas
liberdades e pela justiça social. Nas eleições de 2010, disputou a Presidência
da República e, embora não fosse um dos candidatos que a mídia escolhera para
polarizar as eleições, que a cada dia têm maior sentido plebiscitário, se impôs
pela sua trajetória e esteve em todos os debates para os quais a mídia
convocara os ‘quatro grandes’.
Embora com o mesmo 1% dos votos, tal
como os demais candidatos que a mídia despreza e chama de “nanicos”, Plínio
parecia um gigante. Um velho gigante, tanto na idade, mais de 80, quanto na
sabedoria e compromisso com o povo. Plínio olhava o mundo de cima, mas sem
soberba, como quem sabe enxergar as coisas da vida. Perto dele, a Copa é uma
pelada, e os 30 bilhões de reais gastos na sua realização seriam apenas
recursos destinados a construir escolas e hospitais ou ajudar a implementar a
reforma agrária e a agricultura familiar.
Com dinheiro federal, decorrente de
empréstimos a fundo perdido concedidos pelo BNDES, o Estado e o Município do
Rio de Janeiro — a serviço da Fifa — violaram direitos, suprimiram liberdades,
adotaram política higienista, expulsaram moradores de rua para lugares
distantes, derrubaram casas, removeram comunidades e militarizaram as políticas
públicas. Até o histórico prédio do Museu do Índio correu o risco de demolição
a pretexto de solicitação da Fifa, sob a complacência do Judiciário; salvou-o a
mobilização das populações originárias com o apoio da sociedade.
O Brasil perdeu a Copa em casa. Mas,
para sua realização, houve escancarada violação aos direitos constitucionais.
Que a taça se vá! As políticas implementadas para sua realização é que deveriam
nos fazer tristes ou dispostos a construir realidade diversa, tal como
pretendida pelo Plínio.
Publicado originariamente no jornal O
DIA, em 13/07/2014. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2014-07-13/joao-batista-damasceno-plinio-e-a-copa-das-copas.html
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