“Pesquisas
demonstram que o Judiciário é o poder que melhor seleciona entre as classes
sociais. Na magistratura de primeiro grau, integralmente profissional e
recrutada por meio de concurso público, os juízes são oriundos dos mais
diversos segmentos, o que não implica manutenção da identidade de classe ao
assumir. Embalado pela mídia, há quem seja capaz de seletividade penal e de
vestir toga para expressar ódio de classe e homenagear ‘juizticeiro’”.
O poder do profeta que fala em nome
de uma divindade e do demagogo que arrebata massas com promessas de um porvir
maravilhoso tem fundamento mítico. O poder do mais idoso da tribo ou do
patriarca nas sociedades conservadoras tem fundamento na tradição. Fora disto,
todo exercício de poder é político. Se assentado na vontade popular, é
democracia; se na vontade dos ricos, plutocracia. O Judiciário é também poder
político, ainda que não legitimado pelo voto, e deve funcionar com
independência para a realização da ordem jurídica e pronunciar julgamentos na
base do alegado e no provado.
Mas a mídia tem substituído a
racionalidade que se espera dos julgamentos. No Brasil, como demonstram
pesquisas, a mídia comercial tem propiciado celeridade em julgamentos, e o
noticiário opinativo, orientado decisões. A concentração fundiária, de renda, a
exclusão social, o preconceito aos pobres e às ‘coisas de pobre’, herança da
escravidão e da migração de camponeses miseráveis após a abolição, são marcas
de nossa formação social. Concentradas em poucas famílias também são as
empresas de comunicação.
No plano ideológico, aqueles que
falam em nome dos pobres, mesmo sem possibilitar que falem por si, são
atingidos pelo ódio de classe. Quando incidem em práticas viciosas caracterizadoras
do patrimonialismo que mistura a esfera pública com a privada são exemplarmente
punidos.
Pesquisas demonstram que o Judiciário
é o poder que melhor seleciona entre as classes sociais. Na magistratura de
primeiro grau, integralmente profissional e recrutada por meio de concurso
público, os juízes são oriundos dos mais diversos segmentos, o que não implica
manutenção da identidade de classe ao assumir. Embalado pela mídia, há quem
seja capaz de seletividade penal e de vestir toga para expressar ódio de classe
e homenagear ‘juizticeiro’.
Há quem seja capaz de se pronunciar
em notas indignadas e sarcasmos para propiciar prisão e cassação de senador por
tagarelice sem, no entanto, qualquer manifestação diante de gravação com
conteúdo mais oneroso de outro senador que indica esquema corruptivo muito mais
acentuado e demonstrativo de que o golpe foi dado para estancar investigações.
Mas tudo passará, e a história também fará seus julgamentos.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, em 29/05/2016, pag. 14. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2016-05-28/joao-batista-damasceno-a-historia-nao-os-absolvera.html
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