“O discurso sem
a prática correspondente é mera retórica. Quem nunca ocupou cargos pode dizer o
que faria ou fará; mas, de quem já os ocupou ou ocupa, não vale o discurso”
Um ciclo de debates sobre a crise no
Rio começou dia 16 no campus da Uerj. O seminário inicial foi sobre 'Política
de Segurança Pública', tendo na mesa a delegada e deputada Martha Rocha, o
ex-comandante da PM e coronel Íbis Pereira e o professor Ignácio Cano, do
Laboratório de Análise da Violência da universidade. O seminário pretendia
apresentar alternativas para o Rio na área de segurança pública. Mas o caos tem
as digitais dos membros da mesa, pois foram partícipes da implementação do
modelo falido.
A deputada-delegada Martha Rocha era a
chefe da Polícia Civil no governo Cabral. Foi sob sua gestão que os
manifestantes das 'Jornadas de Junho de 2013' foram criminalizados, autuados e
presos. No dia 20 de junho de 2013, quando a Polícia Militar empreendeu severa
repressão a mais de um milhão de pessoas na Avenida Presidente Vargas, dezenas
de manifestantes foram presos. O delegado da 5ª DP identificava os
manifestantes e os liberava até receber uma visita da hoje deputada. A partir
da visita da chefe de Polícia, ninguém mais foi liberado e todos foram autuados
por associação criminosa. Não se sabe o que aconteceu no encontro. Registre-se
a coincidência.
O coronel Ibis Pereira tem boa formação
democrática e bom discurso. Mas comandou a PM também no governo Cabral e não se
tem notícia de postura ostensiva contra a política de extermínio e confronto
implantada em 2007 e que já vitimou, neste ano, mais de 600 cidadãos e mais de
100 policiais.
O professor Ignácio Cano é um dos
ideólogos das UPPs, modelo de ocupação militar e desrespeito aos direitos
humanos, que acentuou o confronto e vitima policiais. As UPPs, desde o
nascedouro fadadas ao fracasso, consumiram R$ 50 milhões por ano, totalizando
cerca de meio bilhão de reais desde a implantação. O projeto caro, ineficaz e
promotor da escalada da violência teve orçamento superior ao da Saúde, Educação
e saneamento básico.
Só faltaram na mesa o deputado-delegado
Zaqueu Teixeira, que foi o secretário de Direitos Humanos de Sérgio Cabral, e
Beltrame, que não se sabe por onde anda e aparenta não ter qualquer relação com
o atual secretário, que era seu assessor e mantém as políticas em sua gestão
estabelecidas.
Se o campo democrático e popular quiser
pensar saída para a crise na área de segurança pública, precisa buscar
alternativas em outras correntes de pensamento. O Rio precisa responder de
maneira eficiente e democrática à crise que se agrava no atual desgoverno,
continuidade do governo anterior. Quem ocupa os cargos tem a possibilidade de
mostrar o que pensa por meio de ações.
O discurso sem a prática correspondente
é mera retórica. Quem nunca ocupou cargos pode dizer o que faria ou fará; mas,
de quem já os ocupou ou ocupa, não vale o discurso. O que interessa é que se
faz concretamente. E aqueles que construíram o caos na segurança pública não
estão legitimados a apresentar qualquer solução, salvo se começarem pela
autocrítica e reconhecimento de seus erros.
Publicado originariamente no jornal O
DIA, em 21/10/2017, pag. 8. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-10-21/joao-batista-damasceno-agentes-do-caos-e-seguranca-publica.html
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