“Todos os
condenados que não morrerem na prisão, assassinados ou de tuberculose, terão
que ser libertados um dia”
Em 21 de agosto de 2010, traficantes da Rocinha
foram a um baile no Vidigal. Para sua segurança, contrataram os serviços de
policiais que se postaram em guarda na Avenida Niemeyer. Ao amanhecer, uma
guarnição policial achou estranha a presença dos 'colegas'. Desconfiados,
aguardaram a volta dos festeiros e tentaram prendê-los. Contabilidade do
tráfico não se guarda em cofre.
Anda em mochila de quem faz a escritura. Assim, os
traficantes e seus acompanhantes, acossados pela polícia, entraram no Hotel Intercontinental
e buscaram o forno, onde queimaram as provas das atividades. Aí, renderam-se.
Encarcerados em presídio de segurança máxima, não
eram apresentados ao Judiciário para julgamento. Após sucessivos adiamentos das
audiências, em 19 de dezembro de 2011 foi deferida liminar em habeas corpus aos
que não tivessem outro motivo para permanecer presos. Em 13 de março de 2012, a
7ª Câmara Criminal, por unanimidade, referendou a liminar. O major que
comandava a UPP da Rocinha protestou e falou de aumento da criminalidade.
Notificado a demostrar a relação, culpou o jornalista e, no ano seguinte, foi
preso por tortura, morte e desaparecimento do Amarildo.
Um dos soltos naquela ocasião foi Rogério 157,
atualmente apontado pela mídia como autor de conflito na Rocinha. Mas, ao tempo
da decisão, não respondia a outro processo e era primário. E continua, pois não
foi preso, processado ou condenado no período, e o acórdão que o condenou não
transitou em julgado.
A mídia, com apoio de fontes internas do Tribunal,
atribui o conflito na Rocinha àquela soltura. Mas o que fazer? Não existe
prisão perpétua no Brasil, e há prazos a serem cumpridos pelos juízes. Todos os
condenados que não morrerem na prisão, assassinados ou de tuberculose, terão
que ser libertados um dia.
O que precisa ser explicado é por que a Rocinha,
que sempre foi controlada por uma única facção, depois da instalação da UPP
passou a ter duas, possibilitando confronto? Por que o magistrado que é fonte
do jornalista não debate abertamente o tema, pois foi policial e, quando juiz
substituto, se orgulhava da forma como tratava pessoas presas?
Qual o papel da mídia, que apoiou a versão
fantasiosa da polícia sobre Amarildo e não questiona o porquê de a polícia não
ter prendido Rogério 157 por outro motivo desde sua soltura em 2011? Não teria
cometido outro crime? Houve conivência da polícia ou não se trata de pessoa tão
perigosa quanto se alardeia?
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
23/09/2017, pag. 8. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-09-23/joao-batista-damasceno-o-conflito-na-rocinha.html
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