O golpe empresarial
militar que assaltou o Estado em 1964 agregou setores contrários aos interesses
do povo brasileiro alinhados com interesses dos EUA, reforçados durante o
governo JK. Do seio militar havia os tenentistas que se insubordinavam desde
1922, chamados de “Sorbone das Forças Armadas”, e militares de visão mais
tacanha, chamados de “linha dura”. Os militares nacionalistas eram legalistas.
Consumado o golpe, com apoio yankee, como comprovam documentos já publicizados
nos EUA e mostrados no filme ‘O dia que durou 21 anos’, começaram as
perseguições aos brasileiros nacionalistas, incluindo militares, e aos
comunistas.
Dentre as instituições do
Estado, as Forças Armadas foram as que mais sofreram com o golpe empresarial
militar de 1964. Por patriotismo, dezenas de milhares de militares perderam
suas patentes e postos. Venceram os entreguistas. Os opositores do regime ficaram
sujeitos a prisões arbitrárias, torturas, morte e desaparecimentos. A primeira
fase do regime estava sob o comando dos militares tenentistas, de melhor
formação intelectual. Mas com Costa e Silva, a tigrada subiu ao poder. No
Governo Médici a ditadura escancarou os dentes e perdeu a vergonha de ser
ditadura. A abertura política começou com o retorno do tenentista Ernesto
Geisel e as mortes passaram a acontecer somente quando autorizadas. As
execuções, não autorizadas, sob tortura, de Manoel Fiel Filho e Vladimir Herzog
levou o general presidente Geisel a destituir o comandante do 2.º Exército e
depois o próprio ministro do Exército, Silvio Frota.
Os setores conservadores,
mas moderados, que haviam apoiado o golpe passaram a fazer oposição: OAB,
Igreja, empresários e ampla parcela da classe média. A abertura aconteceu num
processo lento, gradual e seguro, antes que a sociedade reagisse. Mesmo assim,
a tigrada ficou raivosa e passou a botar bombas pela cidade: ABI, OAB, Câmara
de Vereadores, bancas de jornal etc. Foram muitas, até que uma bomba explodiu
no colo de um terrorista do Exército no Riocentro, em 1981, onde mataria
milhares de jovens num show de MPB. Morreu o sargento Rosário, mas sobreviveu o
capitão Machado, mantido no Exército e reformado como coronel em data recente.
Em troca do encerramento do caso, a tigrada aquietou-se nos esgotos e tornou
possível a abertura política.
Poucos anos depois um
outro capitão ameaçou colocar bombas, dando sinais de que os terroristas
continuavam em atividade. Mas, a área moderada tinha o controle e o colocou
para fora. Aproveitando os desarranjos pelos quais passa a sociedade
brasileira, a tigrada saiu da caverna, com o apoio da mídia tomou o poder, e
ameaça as próprias instituições. O retorno da tigrada é conseqüência de não
termos feito a redemocratização com responsabilização dos que atentaram contra
a democracia e o Estado de Direito, assaltaram o poder, mataram, torturaram,
estupraram, roubaram, traficaram e desapareceram com pessoas. A tigrada está no
poder e as milícias são a nova face dos ‘Esquadrões da Morte’ que de dentro do
DOPS, DOI-Codi, Polícia Federal e quartéis assombravam as noites e os sonos
durante os ‘Anos de chumbo’. A morte de Marielle pode ter sido encomendada por
aqueles que queriam plantar o terror a fim de surgirem como ‘salvadores da
pátria’ a exemplo dos que queriam explodir o gasômetro do Rio de Janeiro na
hora do rush. O emprego das Forças Armadas contra os próprios brasileiros, para
Garantia da Lei e da Ordem (GLO), e no Haiti, nos governos Lula e Dilma, pode
ter reforçado os seus papéis e suas ousadias.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, em 22/08/2019, pag. 12. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2019/08/5675177-joao-batista-damasceno--a-resposta-do-porao.html
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