O
acordo celebrado pela Volkswagen com o Ministério Público Federal para reparar
sua conduta durante a ditadura no Brasil encerra três inquéritos civis que
tramitavam desde 2015. Mas, não encerra o assunto.
A montadora de automóveis se
comprometeu, num Termo de Ajustamento de Conduta/TAC, a pagar R$ 36 milhões
para iniciativas ligadas à defesa de direitos humanos, investigação de crimes
praticados pela ditadura e à memória histórica. Quase metade do montante irá
para a associação dos trabalhadores da empresa, visando, principalmente, aos
"ex-trabalhadores da Volkswagen do Brasil - ou seus sucessores legais –
que sofreram violações de direitos humanos durante a ditadura", disse a
Volks.
A
pedido da empresa, um historiador alemão elaborou estudo e relatório, em 2017,
onde apontou que a Volkswagen 'foi leal' ao governo militar e que trabalhadores
foram presos por reinvindicações aos seus direitos e que também houve torturas
realizadas no âmbito da própria fábrica em Anchieta, em São Bernardo do
Campo/SP. Muito mais que leal à ditadura a Volkswagen foi sócia do projeto de
pilhagem do Brasil.
Em
comunicado a Volkswagen anunciou que "quer promover o esclarecimento da
verdade sobre as violações dos direitos humanos naquela época", e afirmou
ser "a primeira empresa estrangeira a enfrentar seu passado de forma
transparente" durante a ditadura. O papel de outros sócios da empreitada
devem ser trazidos à luz, inclusive das empresas de comunicação cujos
proprietários enriqueceram vendendo suas opiniões e formando a opinião pública
em contrariedade aos interesses da sociedade brasileira. Um jornal paulista
emprestava seus carros aos grupos da repressão política.
A
ditadura não foi apenas militar. Foi empresarial-militar. Os militares que dela
participaram agiram como milicianos a serviço do poder econômico e por isto
perseguiram os que defendiam os interesses do povo brasileiro:
nacionalistas, líderes populares, comunistas, socialistas, advogados e
religiosos que se apiedavam com as condições de vida que se impunham aos trabalhadores
e às gerações futuras.
Mas,
a história é contínua. Os gorilas que assaltaram o poder, e receberam sinecuras
para fazer o serviço sujo contra o Brasil, formaram discípulos que – no poder –
continuam o projeto entreguista e de destruição do serviço público em prol dos
interesses privados.
O
Brasil que herdamos e contra os quais os interesses contrários ao povo
brasileiro se levantam é o Brasil da Era Vargas. A venda do edifício A Noite,
anunciada recentemente, na esquina da Praça Mauá com Avenida Rio Branco é
emblemática. O prédio foi o primeiro arranha-céu e edifício de concreto armado
da América Latina. Nele o ‘Polvo canadense’ instalara jornal e rádio para fazer
propaganda dos seus interesses. Mas, Getúlio Vargas, após a Revolução de 30,
cobrou as dívidas dos “Donos do Brasil” e recebeu prédio e rádio como
pagamento. Assim, lá instalou a Rádio Nacional, pela qual houve comunicação
nacional em rede. A TV Nacional que deveria igualmente entrar no ar foi
entregue, após o suicídio de Vargas, a um empresário que ajudou a implantar a
ditadura empresarial-militar e com dinheiro do sócio estadunidense foi ao ar em
1965. A criação da Petrobrás, com a oposição dos entreguistas, levou Getúlio ao
suicídio em 1954. E agora está sendo sucateada por quem homenageia torturador.
Quando
falamos da ditadura rememoramos as prisões arbitrárias, torturas, mortes em
dependências militares, roubos, sequestros e desaparecimentos. Muitos
familiares ainda hoje procuram os corpos de seus entes queridos ou seus paradeiros.
Mas, o dano das políticas públicas implementadas, destruindo o futuro do povo
brasileiro, é igualmente danoso e de mais difícil reparação.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em 10/1-/2020. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2020/10/6004273-joao-batista-damasceno--volkswagen--tortura-e-ditadura-empresarial-militar.html
Caramba como é digno, valoroso e honrado, assistir este espetáculo de reconhecimento dos erros do passado que implicaram em persas de vidas e vidas insubstituíveis, pois com certeza estariam hoje do lado dos verdadeiros patriotas, protestando contra os tigres e leões hoje no poder. Digna da Sra. Mercher que reflete luz para a libertação da América, do facismo truculento desumano e cruel e, do racismo a todos os costumes, de raças e orientação sexual.
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