O Rio de Janeiro tem, segundo os registros do TRE,
4.851.886 eleitores cadastrados e aptos a votar nas eleições de 2020. Deste
total 1.720.154 (35,45%) não compareceram
no segundo turno realizado no dia 29/11/2020. É o maior índice de
abstenção de todas as eleições cariocas e, também, o maior índice de abstenção
dentre os demais pleitos realizados no país no mesmo dia.
De acordo com o resultado divulgado não compareceram 1.720.154
(35,45%), compareceram e votaram em branco 157.610 (3,25%) e compareceram e
votaram nulo 431.104 (8,89%). Isto totaliza 2.308.868 (47,59%) eleitores que
não escolheram nenhum dos candidatos que disputaram o 2º turno.
Compareceram às urnas 3.131.733 eleitores. Mas, apenas
2.543.019 votaram num dos dois candidatos.
Quando aproximadamente a metade dos eleitores não
comparece, comparece e anula ou vota em branco o que está em jogo é a
democracia.
O candidato eleito teve 1.629.319 votos. Isto
corresponde a 33,58% do eleitorado total do município, 52,03% dos eleitores que
compareceram e 64,07% dos votos válidos.
O candidato que disputava a reeleição teve 913.700
votos. Isto corresponde a 18,83% do eleitorado total do município, 29,18% dos
que compareceram e 35,93% dos votos válidos.
A politica perdeu. A democracia
perdeu. O fundamentalismo religioso foi fragorosamente derrotado. O candidato
vencedor deve comemorar o resultado com cautela. Apenas um terço do eleitorado
o escolheu e parcela desta fração o fez a contragosto. Muitos dos que nele
votaram, em verdade, expressaram repúdio ao seu rival eleitoral e ao que representa.
Não se trata de um candidato ‘efetivamente vitorioso’ que tenha tocado corações
e mentes. Trata-se do mal menor, tal como uma marquise em dia de chuva de
verão.
Fora da política não há solução
para a vida social. Os poderes tradicionais que imperavam nos domínios
domésticos do potentado rural do Brasil agrário e patriarcal jamais serão
restabelecidos. Um país que jamais foi colonizado, pois colonizou o
colonizador, e que domesticou as divindades e fez o carnaval jamais será
ordenado pela religião. É preciso restabelecer a política como instância
responsável. Mas, não qualquer proposta política. Há que ser política democrática.
Os que pugnam pela democracia precisam se preocupar em restaurá-la, pois as
aventuras das duas eleições passadas demonstram o risco a que está sujeita.
Cesar Sanson
ResponderExcluir2tcm0Sposnsu gohrned ·
Eleições 2020 - 2022:
1) Boulos terá que ser escutado na composição de possíveis alianças pela esquerda em 2022. Deixou de ser uma figura pública e política secundária. Com a estrondosa votação na capital paulista, torna-se um interlocutor importante;
2) Não apenas Boulos terá que ser escutado, o PSOL também, deixa de ser “nanico” com o desempenho em São Paulo e a vitória em Belém; acrescente a isso a enormidade de vereadores eleitos, muitos em capitais, com capilaridade na sociedade;
3) Essas eleições mostram também o quanto será difícil a formação de uma frente ampla da esquerda ainda no primeiro turno; apesar do exemplo de São Paulo, na qual as principais lideranças nacionais de esquerda saíram em apoio a Boulos, a briga fratricida em Recife trará consequências. Em Fortaleza, o PT apoiou de forma tímida e a contragosto o candidato do PDT;
4) O PT pela primeira vez, em três décadas, não leva nenhuma capital do país. É uma ducha de água fria; mas continua sendo o maior partido de esquerda e com a figura de Lula e os programas sociais de seu governo mantêm forte recall entre os mais pobres. Dificilmente abrirá mão de uma candidatura própria em 2022, o que dificultará sobremaneira uma frente de esquerda ainda no primeiro turno;
5) O DEM e o PSDB saem fortalecidos com as vitórias nas respectivas capitais do Rio de Janeiro e São Paulo e a essas associem-se outras capitais com vitórias das duas siglas ainda no primeiro turno. Há uma probabilidade grande de marcharem juntos nas eleições de 2022 e arrastarem outras siglas como o MDB. Será uma chapa forte porque terá o apoio do capital financeiro, produtivo e do agronegócio;
6) Bolsonaro com os resultados das eleições municipais mostra-se cada vez mais isolado. Sem partido, será cada vez mais dependente do centrão – por muitos chamados de direitão – que ganhou musculatura nessas eleições e cobrará ainda mais caro qualquer sustentação ao bolsonarismo;
7) As chances de reeleição de Bolsonaro diminuem muito. Se nas eleições de dois anos atrás, muitos queriam se agarrar à Bolsonaro e surfar em sua popularidade; agora os candidatos fogem do presidente como o diabo foge da cruz;
8) Essas eleições revelaram outra coisa: as fake news vieram para ficar. Muitos comemoram que a intensidade das mentiras pelas redes sociais diminuíram em relação a dois anos atrás; porém, foram fartamente usadas, principalmente em Porto Alegre e Recife. Seguramente em 2022 voltará com intensidade e com nova roupagem. O instagram, nova coqueluche das redes, já entrou em cheio nas ondas fakes nessas eleições;
9) Uma “lição final” das eleições 2020: a política é dialética. Quem previa a pandemia da Covid-19 um ano atrás? E fatos externos a política institucional mudam os rumos e os humores da população.
Excelente análise, Damasceno. Como não conciliar sua abordagem com a de João, o Goulart filho?
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