“A Constituição completou 30 anos. Mas, a
comemoração promete ser no cemitério dos direitos e das liberdades”.
Aos
30 anos, morre a Constituição de 1988. Nascida depois de um arranjo entre os
setores que haviam assassinado a democracia em 1964, a Constituição da
República fez promessas que não foram cumpridas e isentou de responsabilidade
os violadores da ordem democrática no período anterior. Os que não concordaram
com o pacto dos setores dominantes para a abertura lenta, gradual e segura, mais
tarde, condescenderam com os remanescentes dos porões, que agora saem dos
esgotos e difundem a barbárie.
Nem
sempre percebemos que o melhor guardião das ovelhas não pode ser o lobo. As
maiorias, por vezes, se deixam levar pelos seus algozes, como na Alemanha em
1933; às vezes fazem coro com os liberticidas, a exemplo dos julgamentos de
Sócrates e de Cristo.
Sócrates
foi condenado à morte por pregar que aos jovens deveria ser ensinada a verdade,
sem erros conscientes ou falsidades e denunciava os que ensinavam serem os
deuses amorais e premiadores ou castigadores, de acordo com suas vontades, sem
obediência a uma lei que regulasse suas condutas. Além disso, ensinava a seus
discípulos se guiaram por uma ética que pudesse ser aplicada a eles próprios.
Sócrates
foi condenado por pregar a verdade e ensinar contra o que era consenso na
Grécia; foi acusado de zombar dos deuses e de corromper a juventude a ponto de
levar um filho a testemunhar contra o pai diante de crime que a família deveria
encobrir. Ao final, Sócrates foi julgado e condenado pela maioria dos cidadãos
atenienses. Igualmente, o Divino de Nazaré foi condenado à tortura e à morte
por crucificação, por falar de justiça e verdade.
Como
falar de verdade com aqueles que temem o comunismo que não mais subsiste e
declaram ser brincadeira um efetivo discurso fascista? Como falar da Lei da
Gravidade, que fez uma maçã cair sobre a cabeça de Isaac Newton, com aqueles
que acreditam que a terra é plana?
Os
setores que se articularam em 1964 e meteram o país nas trevas da tortura, dos
assassinatos, dos desaparecimentos, da supressão do Estado de Direito, da
concentração de renda e da entrega das riquezas nacionais às corporações
transnacionais tentaram - naquele período - eliminar os nacionalistas e os
compromissados com os interesses populares.
Fizeram
uma abertura política negociada entre eles para se eximirem de
responsabilidades por suas truculências e falcatruas. Hoje, se voltam novamente
contra os interesses do povo. Mas, agora contam com a tecnologia dos robôs que
difundem notícias falsas e criam sensações que preparam o terreno para seus
discursos de ódio.
A
Constituição completou 30 anos. Mas, a comemoração promete ser no cemitério dos
direitos e das liberdades. Promete-se deixar a sociedade em paz, tal como os
cemitérios ou as cidades prestes a serem invadidas. Mas "paz sem voz não é
paz; é medo".
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
13/10/2018, pag. 8. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2018/10/5583107-a-morte-da-constituicao.html#foto=1
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