“O
irmão do prefeito citado nas gravações é executivo do banco BTG Pactual, que é
dono do banco suíço BSI. Enquanto alguns têm conta na Suíça, com recursos de
origem a ser esclarecida, há os que têm banco na Suíça. Nunca na história deste
Estado a convergência dos poderes nas esferas municipal, estadual e federal
possibilitou tamanhas violações aos direitos dos cidadãos”.
A prisão de um senador da República,
com destacada função parlamentar, por tagarelice ocorrida há mais de 20 dias,
mas em alegado flagrante, deixou atordoados a comunidade jurídica e os seus
pares, que — receosos — mantiveram a prisão ordenada pelo STF. Também prenderam
um advogado e um banqueiro. Nas gravações de discutível legalidade aparecem
nomes de autoridades, dentre os quais do prefeito do Rio e de seu candidato à
sucessão, o deputado que a mídia expõe em razão de agressões à ex-mulher.
Mas tão grave quanto as agressões à
mulher é o imbróglio institucional, no Rio, que possibilitou a tramitação do
Registro de Ocorrência entre o MP Estadual e a delegacia de polícia, até
divulgação pela imprensa. A atribuição para investigar crime cometido por deputado
ou senador é do procurador-geral da República (PGR), e a competência para
processar e julgar é do STF.
Transcorria a prescrição nos
escaninhos de instituições estaduais sem atribuição legal para o caso, sem que
o agressor tivesse sido ouvido, o que era desnecessário para aferição de justa
razão para a remessa ao PGR, ante laudo de exame de corpo de delito.
Das conversas do senador denota-se
exploração de prestígio. Quando estudante e crítico do Direito outorgado pela
ditadura, nunca supus a possibilidade destas ocorrências, tal como a maioria
dos brasileiros não concebe como se faz justiça no Brasil. Ao longo de mais de
duas décadas como juiz pude testemunhar e vivenciar situações que não constam
nos livros, nem se ensinam nas faculdades.
Uma delas envolvia pedido do
governador, mediado por presidente do tribunal, para despejo de pessoas pobres
que se encontravam no trajeto do Arco Rodoviário Metropolitano, maior obra do
PAC, sem prévia indenização aos moradores. A efetiva existência destas ocorrências
é que possibilitam promessas — por vezes falsas — de tráfico de influência.
O irmão do prefeito citado nas
gravações é executivo do banco BTG Pactual, que é dono do banco suíço BSI.
Enquanto alguns têm conta na Suíça, com recursos de origem a ser esclarecida,
há os que têm banco na Suíça. Nunca na história deste Estado a convergência dos
poderes nas esferas municipal, estadual e federal possibilitou tamanhas
violações aos direitos dos cidadãos.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, em 29/11/2015, pag. 18. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-11-29/joao-batista-damasceno-teje-preso-senador-por-tagarelice.html