A gravação de conversa com o senador Renan
Calheiros, do PMDB, pelo ex-senador Sérgio Machado, do PSDB,
registrou proposta de pôr fim às investigações que incriminam até o
presidente da República e a formulação de um “Pacto de Caxias”.
Duque de Caxias, patrono do Exército
Brasileiro, se notabilizou durante o Império por sufocar
rebeliões populares e promover pactos com as oligarquias.
Theófilo Otoni, num acordo, foi batido por Caxias na Batalha de Santa
Luzia na Revolução Liberal de 1842. A Revolução Farroupilha dos
latifundiários gaúchos terminou em acordo em 1845.
Diferentemente, revoltosos populares foram
exterminados por Caxias. A imprensa no século 19 saudou o militar
quando partiu para a Vila de Iguassu a fim de combater quilombolas.
A criação de Editoria de Guerra por um jornal
fluminense para cobrir os confrontos armados envolvendo agentes do
Estado e praticantes de crimes, ao invés de ajudar a compreender o
processo pelo qual passa a segurança pública no Rio de Janeiro mais
serve para encobrir a realidade que permeia tais relações. O que o
Rio de Janeiro vivencia não é guerra. Guerra é a condição legal que
permite a dois ou mais grupos hostis continuar um conflito pela força
armada; guerra é um ato de violência cujo objetivo é forçar o
adversário a executar a sua vontade, estabelecendo dominação.
Não é o caso.
Não há guerra, não falta polícia, e esta não
está despreparada. As mortes provocadas pela política de confronto
não decorrem de falta de polícia. Ao contrário, é presença excessiva de
polícia. Não são as drogas, em nome das quais se implementam política
de confronto, que matam; são os tiros disparados em seu nome. Pouco
se ouve falar em overdose e muito das mortes provocadas pela política
de extermínio.
Não há guerra. Há crimes, cujo conceito
precisa ser compreendido, assim como as razões pelas quais o Estado
se prontifica a combater apenas alguns deles, nas favelas e bairros
da periferia.
Nada mais emblemático que, na Semana de
Caxias, que agiu contra quilombolas, que o Exército do qual é patrono
seja empregado contra seus descendentes nas favelas, para Garantia da
Lei e da Ordem. A imprensa, que saudava o patrono naquela época,
saúda seu Exército hoje. “Pacto de Caxias” é sinônimo de pacto entre
as elites e massacre do povo.