domingo, 26 de agosto de 2018

Juízes e promotores de justiça precisam saber


JUÍZES E PROMOTORES PRECISAM SABER
Eu não sei quem é Raull Santiago. Recebi o texto abaixo e o publico. Tenho recebido outros relatos alusivos às execuções coletivas no Alemão e Maré. Recebi também algumas fotos que postarei abaixo.
Creio que muitos juízes e promotores não sabem o que está acontecendo. O lugar onde vivemos não acontece estas coisas. Os lugares por onde circulamos há algum resquício de respeito aos valores que nos caracterizam como civilização. Este respeito é ainda maior quando somos brancos, andamos com roupas que nos caracterizam como diferenciados daqueles que vivem nas favelas e periferias e, sobretudo, quando nos identificamos como agentes do Estado ocupantes de funções no sistema de justiça.
Eu acredito que muitos juízes e promotores não sabem o que está acontecendo nas favelas durante a intervenção. Creio que muitos sequer ouviram falar das execuções na Favela do Salgueiro.
Mas, muitos dos que ignoram, não sabem porque optaram por ignorar. Na Alemanha nazista muitos cidadãos não sabiam dos campos de concentração e das atrocidades que neles aconteciam. Mas, igualmente não queriam saber. E por isso tinham responsabilidade pelo que aconteceu.
Eu sei o que está acontecendo. Tenho as minhas limitações. Mas, jamais poderei dizer que não sabia, assim como jamais poderão dizer que nada fiz para denunciar as violações que estão sendo perpetradas no presente momento. O que posso fazer estou fazendo: Avisando; denunciando! É pouco. Mas, aqueles que forem encarregados de atuar nos casos, não poderão me olhar e dizer que tais atrocidades não foram publicizadas.
As violações à vida, à inviolabilidade do domicílio, à integridade física e à dignidade da pessoa humana que se perpetram nas favelas pelas forças de ocupação somente são possíveis porque há no Ministério Público e no Poder Judiciário quem as acoberte.
Abaixo transcrevo a carta que recebi.
Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2018.
João Batista Damasceno.



De: Raull Santiago

“GENTE, vocês que não são de dentro do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, ou de favela/periferia, não fazem idéia do terror que está aqui hoje.

“MAS VOCÊS PODEM AJUDAR A FREAR ISSO! POR FAVOR!

“Há casas sendo invadidas e destruídas. Crianças sendo revistadas. Celulares tomados e conversas/privacidade sendo desrespeitadas. E pior, pessoas agredidas e muitos assassinatos, inclusive a facadas.

“Não acredito que a humanidade tenha chegado a esse ponto de desumanização, ou seja tola o suficiente para acreditar que violência, algum dia, poderá construir qualquer perspectiva de paz;

“Essas ações violentas chamadas de busca por "Segurança Pública" só alimentarão mais e mais o caos que temos vivido neste sociedade, enquanto cariocas, enquanto brasileiros, enquanto seres humanos.

“Estou reparando que estamos gritando alto, mas quem pode intervir, se mantém em silêncio. Eu não sei o que está acontecendo com essa sociedade, ainda mais com as pessoas próximas a mim, a essas duas favelas que são o Complexo do Alemão e o Complexo da Penha.

“É triste sangrarmos nessa justificativa bizarra de "guerra às drogas", quanto todos e todas sabemos que não é atacando as favelas que se construirá solução sobre essa questão.

“Não é na favela que essas drogas nascem. E não é aqui que estão as poderosas fábricas de armas. Duas frases que já são até clichê, mas que precisam ser ditas, pois são tão óbvias, porém parece que as pessoas escolheram fingir que não entenderam... Isso é preconceito conosco. É ser menos humano, humana, com você mesmo/a.

“E agora? Há corpos no chão, de todos os lados de uma batalha que já se inicia perdida. E nós, Complexo do Alemão e da Penha, mais de MEIO MILHÃO DE PESSOAS, novamente recebendo como política pública, o medo, a dor, o desespero e a covardia.

“É isso que vocês querem para essa cidade?

“É isso que vocês querem para esse estado?

“Jamais vou aceitar violência como solução para violência. Muito menos o sangue pelo sangue. Essa sociedade já insisti nisso fazem anos, mas as coisas só ficam piores.

“Não esqueçam:

“Gastaram milhões com a UPP. 

“Gastam bilhão com a intervenção.

“Quantas escolas foram construídas?

“Quantas moradias melhoradas?

“Quantos esgotos a céu aberto tratados e fechados?

“Quantas vezes o estado invadiu a favela com 4 mil professoras e professores? Ou com 4 mil treinadores e treinadoras de diferentes esportes?

“Começou às 4h da manhã...

“Eu saindo de casa, vi a vizinha idosa saindo e avisei: o exército está entrando na favela. 

“Ela já quase chorando diz: "ai meu Deus, de novo não. Você vai descer agora? Posso ir com você? Eu preciso chegar no trabalho, tomara que esteja passando ônibus, pois eu tenho que estar as 5h25 no Centro".

“Ela só queria não se atrasar, para não perder o lugar onde ela tira o pouco que vira o todo do lar. Tem noção disso?

“É óbvio que a pessoa tem medo. Ela poderia dizer que não ia descer, até porque lá na pista, quando saímos do beco haviam uns 20 fuzis apontados para nós.

“Mas descemos, eu e ela tremendo. Cada um tendo que fazer escolhas menos piores, ou que interfiram menos em sua vida já difícil. Ou seja, precisar chegar ao trabalho como escolha dela, mesmo que tenha que passar pelo risco iminente de tiroteio.

“Sabe porque? É que aqueles e aquelas que não vivem na favela, não sabe os significados e escolhas diversas que precisamos fazer o tempo inteiro, no cenário da sobrevivência. Ou seja, patrão não quer saber, manda embora mesmo, a tia, ou o tio que chegou atrasado ou faltou, porque a bala voou antes mesmo do galo cantar.

“Hipocrisia do ca...., sabe?

“Sociedade de m..., sabe?

“Aquela sensação ruim de não ter muito o que fazer e pior, sentir que a maioria só observa enquanto a gente agoniza.

“Parecem esperar nosso último suspiro.

“Eu não tenho medo de polícia, exército, operações e etc.

“Eu tenho medo de vocês, que ficam em silêncio, quando poderiam e deveriam gritar. Ainda mais quando tem muito mais privilégios que a nossa realidade aqui da favela.

“NOSSAS VIDAS IMPORTAM. E isso ninguém vai tirar da minha cabeça”.
















sábado, 18 de agosto de 2018

O mourão e o chifrudo


Mourão é uma estaca que sustenta uma cerca de arame farpado para limitar o pasto para o gado; é também um esteio firmemente fincado ao chão e a que se amarram gado, normalmente para tratá-los. A prática de se amarrar o gado ao mourão para os cuidados veterinários é importante pois se o animal tiver chifre grande, como por exemplo os da reaça digo, raça guzerá, pode oferecer risco a quem chegue perto do chifrudo.  

Mourão é apenas isto. Um objeto a serviço dos donos das propriedades e das cercas.

Seja no uso em cerca ou para cuidados veterinários um chifrudo sempre estará perto de um mourão. Seja em locais onde o pastoreio é livre, em grandes latifúndios por exemplo, em pequenas e médias propriedades, ou ainda em confinamento, a existência do chifrudo impõe a existência do mourão.

Mourão também serve para o encosto de um chifrudo que se sentir enfraquecido ou cansado. Se o mourão não tiver base sólida ele se desloca diante de qualquer pressão. É comum que chifrudos sem resistência para romper os limites busquem um mourão sem base sólida para, por ele, atingir seus objetivos. Assim, o chifrudo se encosta no mourão, testa sua fraqueza e em seguida o empurra tombando-o no chão e transpondo seus limites.

Mourão e chifrudo não são humanos. Mas, na literatura, pela figura de linguagem denominada personificação ou prosopopéia animais ou seres inanimados recebem atribuições humanas. Daí é que até mourões são capazes de emitir opiniões.

Brizola, maragatos e ximangos


Iniciada a campanha eleitoral surgem candidatos de todo viés, inclusive aqueles que - por jamais terem tido qualquer preocupação coletiva - se dizem não políticos. Entrar na política dizendo não ser político deveria ser vergonhoso. Política é a atividade no sentido de intervir nos processos que permitam chegar a decisões referentes à existência do Estado, seu formato, à estrutura do governo, aos planos governamentais, às condições dentro das quais se exercem as liberdades, ao funcionamento da Justiça, além de todos os outros assuntos de interesse coletivo.
Na Antiguidade Grega, a palavra 'idiota' designava literalmente a pessoa que se dedicava apenas aos assuntos particulares, sem preocupação com o interesse público. A psiquiatria classificou como idiota o indivíduo diagnosticado com deficiência mental ou com grau avançado de retardamento mental em decorrência de lesões cerebrais, incapaz de compreender que os interesses públicos também são seus. Os que pleiteiam o desempenho de funções públicas dizendo não serem políticos deveriam ter vergonha do que dizem, pois é vício que não deveria ser ostentado e demonstra tratar-se de pessoa que somente cuidou de seus interesses individuais e certamente pretende o cargo para a mesma finalidade.
Há os "pretendentes a salvadores da política", que incluem em seus discursos temas como "Deus" e "Família". Claro que o deus destes é o dinheiro e as vantagens do poder. As famílias que defenderão serão as suas, por meio de nepotismo, filhotismo e apadrinhamentos.
Há também os que se apropriam de palavras ou imagens de pessoas, mas descomprometidos com o ideário correspondente. Brizola é um bom exemplo da apropriação indevida. Não basta dizer o nome do Brizola, inconstestável líder popular comprometido com os interesses do povo brasileiro, e por isso massacrado pela mídia e pelos interesses inconfessáveis apoiados pelo próprio sistema de justiça.
Brizola, que não era descendente de maragatos ou ximangos, honrou o ideário dos que defenderam os interesses nacionais e do povo brasileiro. Maragato é nome dados aos sulistas que iniciaram a Revolução Federalista, em 1893, contra o coronel Júlio de Castilhos e eram identificados pelo uso do lenço vermelho.
Na Revolução de 1923, contra Borges de Medeiros, os maragatos novamente se rebelaram. Os ximangos, a quem os maragatos se opunham, foram assim apelidados, por comparação com a ave de rapina que dos mais fracos tira até os olhos.
Getúlio Vargas, quando liderou a Revolução de 1930, partiu do Rio Grande do Sul com o lenço branco de seu grupo político. Mas, no meio do caminho o trocou pelo lenço vermelho com o qual chegou ao Rio de Janeiro. Pouco importa a cor do lenço. O que interessa é a defesa dos interesses do povo e a segurança dos direitos já conquistados. Não basta falar o nome de líderes populares e nacionalistas. É preciso que a defesa do interesse do povo seja efetiva, em oposição às aves de rapina que nos querem tirar os olhos, suprimindo direitos dos trabalhadores e entregando as riquezas nacionais.