No filme “Arquitetura da Destruição” Peter Cohen diz que o objetivo do nazismo era embelezar o mundo e que por isto pretendia destruir tudo e todos que não estivessem em conformidade com os seus padrões estéticos e comportamentais. No Brasil, a Constituição instituiu um Estado Democrático de Direito que tem por um dos fundamentos o pluralismo. A diversidade é reconhecida como um direito e merece proteção estatal.
Os horrores do nazismo não atingiram somente os judeus. Os primeiros a
serem eliminados foram os doentes crônicos, os idosos sem
capacidade produtiva e dependentes do Estado ou da caridade pública e
pessoas com debilidade mental. Também foram eliminados ciganos, comunistas
e homossexuais. Hitler era um homem religioso, vegetariano e gostava
de animais.
No Brasil florescem projetos inclusivos das elites de cada grupo
social, mas excludentes da maioria da população. O golpe que foi promovido no
Brasil, teve como base e escada as políticas anteriores que lhe criaram as
condições de efetivação, e escancara o descompromisso com os
princípios gerais estabelecidos na Constituição para as atividades
econômicas, dentre o que, a valorização do trabalho humano, a existência digna,
a soberania nacional, a função social da propriedade, a defesa do meio ambiente
e a busca do pleno emprego.
O ideal do pleno emprego está sendo substituído pelo recrutamento
seletivo em cada grupo social, a fim de acomodar as desigualdades estruturais,
promovendo a exclusão da maioria da participação do resultado da riqueza
socialmente produzida. Políticas corporativas a pretexto
de ‘responsabilidade social’ se assemelham às criadas pelos autores da
expressão, que reduziram a América Central a países produtores de banana, governados
por ditadores escolhidos pelos executivos das empresas.
Responsabilidade social era a esmola que se dava, na América Central,
a alguns vendilhões da pátria, enquanto se roubava o país inteiro. Neste
cenário de exclusão do povo da participação na riqueza
socialmente produzida e pretensão de imposição de padrões de
comportamentos, tal como fez o nazismo, um Projeto de Lei em tramitação na
Assembleia Legislativa de São Paulo chama a atenção. Um deputado deseja proibir
a entrada no Metrô de pessoas “trajadas antissocialmente”, pois poderiam
causar incômodo. Além dos "trajados antissocialmente", estariam
impedidas de viajar as pessoas "embriagadas”, "enfermas de moléstias
contagiosas, que causem repugnância, ou que exijam cuidados especiais”.
A proposta pretende ainda proibir quem se se servir dos trens para
efetuar transporte de mercadoria. A proposta dá poderes exagerados aos
agentes privados da segurança, que poderiam conduzir coercitivamente
o passageiro à delegacia.
No Haiti, a Milícia de Voluntários da Segurança Nacional, força
paramilitar inspirada no fascismo, composta por homens conhecidos como ‘Tonton
Macoute’ que se traduz como ‘Tio do Saco’ em alusão às estórias do ‘homem do
saco’ ou ‘bicho papão’, foi criada para ‘colocar ordem no país’ e obedecia
diretamente ao ditador François Duvalier, o 'Papa Doc', e depois ao seu filho e
sucessor, Jean-Claude Duvalier, o ‘Baby Doc’. Foram responsáveis pelo
desaparecimento de cerca de 150 mil pessoas de 1959 a 1986.
Esses projetos que têm suposto objetivo de ‘colocar ordem no país’
começam por pretender excluir a presença do povo dos bens públicos que
a todos pertencem e acabarão por pretender expulsar o próprio povo do país
ou eliminá-lo. Em parceria com os ‘terrivelmente religiosos’ não faltará quem
proponha fogueiras como as da Santa Inquisição ou fornos de cremação para os
indesejáveis. Mas, não passarão!
Publicado originariamente no jornal O
DIA, em 26/09/2020. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2020/09/5995474-joao-batista-damasceno--o-povo-resistira--e-vencera.html