“Fotos
dos proprietários da aeronave com governadores da oposição circulam pelas
mídias sociais. Mas, a mídia tradicional – responsavelmente – não abordou a
relação entre eles. Este é um comportamento desejável, tanto da polícia quanto
da mídia. Não há prova, até agora, de que os proprietários do helicóptero sejam
os donos da droga e, portanto, há de viger o princípio da inocência.
Igualmente, as fotos com os governadores não expressam relação com o ilícito. O
mesmo princípio deve valer para jovens negros e pobres das favelas ou da
periferia e para políticos de outros partidos”.
Helicópteros não têm causado
maiores baixas no campo político graças à condescendência de setores da mídia.
Em 2011, a queda de um deles na Bahia expôs as relações entre coisa pública e
vida privada e entre políticos e empreiteiros. Os danos não foram maiores
porque a ‘CPI do Cachoeira’ foi por água abaixo. Neste ano, no Rio, o uso de
helicóptero oficial para transporte de um cachorro voltou a ser tema do
noticiário por alguns dias. A recente apreensão de 445 quilos de cocaína a
bordo de um helicóptero pertencente a um deputado mineiro, filho de um senador
do mesmo estado, volta a expor a seletividade das coberturas jornalísticas. O
helicóptero do deputado, pilotado por seu assessor, abastecido com verba de
gabinete, saiu de São Paulo, pousou na fazenda da família do parlamentar em
Minas Gerais e rumou para o Espírito Santo, onde a droga foi apreendida. O
piloto responsabiliza o copiloto e o delegado já adianta: “Até agora não há
prova de envolvimento da família do deputado ou da empresa dele com o tráfico
de cocaína”.
Fotos dos proprietários da
aeronave com governadores da oposição circulam pelas mídias sociais. Mas, a
mídia tradicional – responsavelmente – não abordou a relação entre eles. Este é
um comportamento desejável, tanto da polícia quanto da mídia. Não há prova, até
agora, de que os proprietários do helicóptero sejam os donos da droga e,
portanto, há de viger o princípio da inocência. Igualmente, as fotos com os
governadores não expressam relação com o ilícito. O mesmo princípio deve valer
para jovens negros e pobres das favelas ou da periferia e para políticos de outros
partidos. Na década de 90, foto de Leonel Brizola em campanha eleitoral numa
favela, foi amplamente divulgada, pois se dizia que um eleitor que o
cumprimentara publicamente – no meio de dezenas de outros — era um traficante.
Julgamentos justos somente se
fazem se partirem dos princípios da inocência ou da dúvida ante a acusação.
Artigo originariamente publicado no jornal O DIA, de 04/12/2013, pag. 22. Disponível no link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2013-12-04/joao-batista-damasceno-helicopteros-po-po-po-e-bum.html
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