Manifestação na abertura da audiência pública realizada pelo Forum Permanente de Sociologia Jurídica e Sindicato dos jornalistas profissionais do município do Rio de Janeiro, na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro/EMERJ, no dia 12/11/2014.
Audiência
Pública: SEGURANÇA DOS JORNALISTAS, DIREITO FUNDAMENTAL
O
Forum Permanente de Sociologia Jurídica da Escola da Magistratura do Estado do
Rio de Janeiro/EMERJ promove sua 11ª Reunião, em audiência pública, com o tema
“Segurança dos jornalistas, direito fundamental”.
Ainda
que o tema ‘segurança’ tenha evocado nestes tempos de Estado Policial à
segurança armada, por meio de vigilância e repressão, o que havemos de tratar nesta
audiência pública é do direito à segurança no emprego, à autonomia funcional, à
segurança no trabalho com o fornecimento de equipamentos de proteção individual
e outros comportamentos dos quais resultem tranqüilidade e paz no exercício da
profissão pelos trabalhadores das empresas de comunicação.
A
segurança da qual hão de gozar os jornalistas não há de ser a segurança pública traduzida
em medidas de vigilância e repressão, mas à
percepção de se estar protegido de riscos, perigos ou perdas de quaisquer
natureza, em decorrência do exercício da atividade profissional. O conceito de
segurança dos jornalistas com o qual trabalhamos há de ser concebido como um sistema integrado envolvendo instrumentos de
justiça e defesa dos direitos de todas as
espécies, incluindo direito à saúde e direitos sociais.
O processo de segurança dos jornalistas do qual pretendemos
tratar se inicia pela prevenção às violações aos direitos dos profissionais de
imprensa e – se for o caso – finda com a adequada reparação do dano e no
tratamento das causas para evitar se repita.
A morte do cinegrafista Gelson Domingos, na favela Antares,
em Santa Cruz, retrata a falta de segurança física para a atividade
profissional de jornalistas, fato que se repetiu com o cinegrafista Santiago
Andrade, da mesma emissora de televisão. Do primeiro, morto em 2011, durante
uma operação policial, descobriu-se depois que - além de dirigir o próprio
carro - seu contrato de trabalho era de técnico, com salário menor ao que tinha
direito. O segundo não usava capacete, equipamento de proteção individual indispensável
na cobertura de conflito.
Em São Paulo o repórter-fotográfico Alex Silveira foi
alvejado no olho esquerdo por uma bala de borracha disparada por forças
policiais e, embora tivesse sido atingido enquanto trabalhava, a justiça o responsabilizou
pela ocorrência, sob o fundamento de que estava voluntariamente no local
sujeitando-se ao risco de dano. De tal
conclusão resultou a reforma da sentença de primeira instância que condenara o
Estado pelo dano irreversível causado ao profissional.
A agressão ao repórter do G1 Henrique Soares, anteontem, num
dos principais acessos ao Conjunto de Favelas do Alemão, é cabal demonstração
da falta de segurança com a qual trabalham os profissionais da mídia
tradicional. Sua ocorrência, ainda no acesso do conjunto de favelas e numa área
que o Estado denomina pacificada, demonstra a falência da política de segurança
militarizada que apenas acirra os conflitos e expõe os mais diversos tipos de
trabalhadores aos seus efeitos, inclusive os profissionais da segurança pública
de baixa patente.
No caso do assassinato da juíza
Patrícia Acioli um jornalista correu o risco de perder o emprego depois que
postou em edição eletrônica entrevista com desembargador que a vira solicitar
segurança, negligenciada por este tribunal. Gestões do tribunal junto aos
proprietários das empresa de comunicação colocaram a tranqüilidade do
jornalista em risco. Salvou-o a dignidade do entrevistado que se recusou a
assinar um desmentido lhe entregue.
O afastamento de editora de grande
jornal carioca por ocasião das eleições deste ano e em razão dela é outro episódio
a nos propiciar reflexão sobre as condições do trabalhos dos jornalistas.
Apenas
estes relatos já denotariam a necessidade de segurança aos profissionais das
empresas de comunicação. Mas, a Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji) apurou mais de uma centena de casos de agressões físicas
contra jornalistas durante as manifestações e protestos de 2013 e concluiu que
agentes do Estado cometeram 75% delas, e manifestantes, 25%.
Ninguém,
menos ainda um trabalhador no exercício da função, há de ser agredido. Mas, a
violência que suportam os profissionais da comunicação não é apenas a
simbólica, entremeada no produto de suas atividades. Nem a violência simbólica,
nem a agressão direta hão de compor o cotidiano dos jornalistas.
Já
não bastam manifestos por uma cultura de paz. É preciso exigir o fim da
violência política das forças desestabilizadoras da democracia. Ao Estado cabe
possibilitar o desarmamento dos ânimos e fazer valer os preceitos da
Constituição.
E por isso, para o
bem da democracia e da civilidade, é imprescindível que trabalhadores das
empresas de comunicação tenham segurança para o desempenho de suas atividades,
por indispensáveis à opinião pública, base das decisões coletivas. Não
desejamos jornalistas cobrindo eventos por meio das escotilhas de carros blindados,
notadamente se do Estado; menos ainda tutelados por forças capazes de violações
aos direitos humanos, por macular a notícia. Isto, sem dúvida, comprometeria a
apuração das informações, colocaria a notícia sob suspeição e, inevitavelmente,
implicaria acirramento dos ânimos contra os profissionais de imprensa, que no
dia-a-dia, em contato com a sociedade, acabam por representar todo o complexo
da indústria da informação.
João Batista
Damasceno.
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