“É emblemático que neste momento a nomeação de
Moreira Franco para ministro de Estado esteja em discussão. Afinal, foi ele
que, eleito em 1986 no Rio, pôs fim aos Cieps e restabeleceu a truculência na
segurança pública que nos chantageia e nos faz reféns. Moreira é o melhor
exemplar de um político sem voto e de uma classe dominante estéril e colonizada
que quer transformar o povo em estrangeiro no seu próprio país”.
Torturas,
esquartejamentos, estupros e roubos são apontados como as piores ocorrências
institucionalizadas na ditadura empresarial-militar. Mas mesmo sem elas o
regime teria sido deplorável. A concentração de renda e o êxodo rural
formataram as condições nas quais vivemos.
Até a
parcela do empresariado nacional não afinada com o regime sucumbiu. A extinção
da Panair do Brasil para favorecer a Varig, com o apoio do Judiciário, nos
ajuda a compreender o que foi feito. No plano educacional, a reforma feita pelo
regime propiciou a formação que temos, gerando uma massa acrítica incapaz de
compreender a própria miséria existencial na qual está inserida.
Os
interesses que se articularam em 1964 e que aprofundaram o golpe a partir de
1969 não foram desarticulados com a redemocratização. Nesta semana, encontro
patrocinado pelo investidor Jorge Paulo Lemann em Nova York contou com a
presença do juiz Sergio Moro. Tratou-se de um evento para ajudar a “vender o
Brasil no exterior”, termo que os vendilhões usam elogiosamente para o que
fazem.
Na década
de 70, Geisel visitou a Alemanha, e as publicações europeias estamparam, em
matérias pagas, fotos da musa brasileira Rose Di Primo. O general-presidente,
filho de pastor alemão, censurava no Brasil, em nome da moral, filmes e
publicações. Mas externamente vendia o país como paraíso para o turismo sexual.
Hoje, o
que está à venda são as riquezas nacionais, a começar pelo petróleo e o nióbio,
e o futuro do povo brasileiro. O modelo educacional que se reimplanta é o
tecnicista que retira a capacidade de pensamento crítico e reflexão.
Sexta-feira
rememoraremos o 20º aniversário da morte de Darcy Ribeiro, que dedicou a vida à
educação e que acreditava em nossa capacidade de nos construirmos como nação soberana
e com igualdade na apropriação dos bens que nos são comuns.
É
emblemático que neste momento a nomeação de Moreira Franco para ministro de
Estado esteja em discussão. Afinal, foi ele que, eleito em 1986 no Rio, pôs fim
aos Cieps e restabeleceu a truculência na segurança pública que nos chantageia
e nos faz reféns. Moreira é o melhor exemplar de um político sem voto e de uma
classe dominante estéril e colonizada que quer transformar o povo em
estrangeiro no seu próprio país.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, pag. 9, em 11/02/2017. Link: http://odia.ig.com.br/opiniao/2017-02-11/joao-batista-damasceno-vendilhoes-e-entreguistas.html
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