“Que os
vendilhões das riquezas nacionais o façam, considerando seus interesses
pessoais, não é de se estranhar num país marcado pelo patrimonialismo. Estranha
é a falta de reação da sociedade.
“Não só
riquezas naturais estão sendo retiradas do alcance dos brasileiros. O
sucateamento das universidades públicas é também meio de cercear o povo do
acesso a bens culturalmente produzidos e busca de seu extermínio”.
Quem
analisa as grandes civilizações por vezes se pergunta como coisas tão
grandiosas foram construídas. Os Jardins Suspensos da Babilônia, as construções
gregas e romanas, as Pirâmides do Egito e os monumentos dos Incas, Maias e
Astecas nos mostram do que povos da antiguidade foram capazes.
Mas tais
monumentos nos fazem indagar sobre os hiatos civilizatórios existentes entre
algumas épocas. E a resposta talvez seja que de vez em quando a humanidade
revisita a barbárie.
A
Revolução Francesa de 1789 editou a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão e foi o prenúncio de um período de ouro na história da humanidade. Mas
o século 20 conheceu o nazismo, que queria ‘embelezar o mundo’ destruindo tudo
e todos que não fossem compatíveis com seu ideário de belo, e as maiores
atrocidades foram cometidas contra seres humanos.
No
pós-guerra, foi editada a Declaração dos Direitos Humanos pela ONU, que incluía
homens e mulheres; outras declarações foram posteriormente proclamadas,
buscando a extensão de direitos econômicos e sociais.
No
presente momento, presenciamos retrocessos nos direitos individuais e sociais.
Talvez estejamos revisitando a barbárie, e isto só é possível diante da
naturalização de tais práticas, o que nos retira a capacidade de indignação.
Degolas de dezenas de presos não causa indignação em amplos setores da
sociedade. Ao contrário, as aplaudem.
A
destituição de uma presidenta eleita por 54 milhões de votos, sem demonstração
de prática de crime, não foi tratada como atentado à democracia.
O Brasil
deixou de se construir como potência no ciclo da cana, no ciclo do ouro e no
ciclo do café; agora, quando dispõe de imensas reservas petrolíferas que movem
o mundo, está entregando suas riquezas aos abutres que levaram o presidente
Getúlio Vargas ao suicídio e perdendo a capacidade de se construir como lar
coletivo para as gerações futuras.
Que os
vendilhões das riquezas nacionais o façam, considerando seus interesses
pessoais, não é de se estranhar num país marcado pelo patrimonialismo. Estranha
é a falta de reação da sociedade.
Não só
riquezas naturais estão sendo retiradas do alcance dos brasileiros. O
sucateamento das universidades públicas é também meio de cercear o povo do
acesso a bens culturalmente produzidos e busca de seu extermínio.
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