“Parte da mídia tem sido a maior instigadora do
ódio e no sepultamento de Eduardo Campos contribuiu para isto. Jornais
acentuaram a vaia à Presidenta e apenas timidamente no corpo dos textos
explicitaram que alguém puxou aplauso e que a Presidenta foi muito aplaudida.
Prevaleceu a chamada negativa. Um velho politico pernambucano, que um dia
esteve ao lado das forças populares, Jarbas Vasconcelos, ganhou espaço na mídia
para dizer que a Presidenta não deveria ter ido ao velório, pois já não era
amiga do falecido. Como pode o velho cacique querer controlar o luto alheio?
Igualmente não mereceu abordagem a emoção do ex-presidente Lula ao se defrontar
com o caixão do antigo companheiro.”
Os que vaiaram a Presidenta
Dilma no velório de Eduardo Campos têm o mesmo perfil daqueles que comemoraram
a morte dele. Estamos aprendendo a fazer política com ódio e isto é ruim. Política
se faz com o cérebro e não com o fígado.
A sociabilidade que permite a
organização política e estabelecimento das relações civilizadas é estranha às
manifestações coléricas. Quem viu o filme O Poderoso Chefão III há de se lembrar de
um conselho de Michael Corleone ao seu sobrinho Vincent: “Não odeie os seus
inimigos. Isto atrapalha o raciocínio”.
O brasileiro é cordial, escreveu
Ribeiro Couto em 1931 para Alfonso Reys e desta frase Sérgio Buarque de
Hollanda fez a sua vida intelectual. A cordialidade é manifestação do coração,
tanto pode ser um afago quanto um desaforo. Mas, é coisa momentânea e
irrefletida. O mercado publicitário entendeu bem isto e toda propaganda é um
apelo emocional ao consumo.
Ódio é diferente de cordialidade. Ele se caracteriza pela desqualificação do outro e busca dos meios que estiver ao alcance para sua eliminação. Quando da aparição do mensalão, um senador de Santa Catarina, da banda mais elitista e conservadora da política brasileira, disse que isto era uma boa oportunidade para “se livrarem desta raça” e um prócere do governo anterior disse que não era importante pedir impeachment, o importante era “deixar o governo sangrando até o fim do mandato”. Mais que a maldade o que se vivenciou foi um desejo de perversidade, que se caracteriza pelo gozo com o sofrimento alheio.
Parte da mídia tem sido a maior instigadora do ódio e no sepultamento de Eduardo Campos contribuiu para isto. Jornais acentuaram a vaia à Presidenta e apenas timidamente no corpo dos textos explicitaram que alguém puxou aplauso e que a Presidenta foi muito aplaudida. Prevaleceu a chamada negativa. Um velho politico pernambucano, que um dia esteve ao lado das forças populares, Jarbas Vasconcelos, ganhou espaço na mídia para dizer que a Presidenta não deveria ter ido ao velório, pois já não era amiga do falecido. Como pode o velho cacique querer controlar o luto alheio? Igualmente não mereceu abordagem a emoção do ex-presidente Lula ao se defrontar com o caixão do antigo companheiro.
O luto é pessoal. Cada pessoa vivencia intimamente a dor da perda. Não estamos acostumados a respeitar o luto do outro e não raro a intimidade alheia é violada, ofendendo-lhe a dignidade. Luto é um estado no qual se coloca uma pessoa em razão de perda significativa. Não é comparável o luto de um familiar ao luto político. Familiares e políticos podem expressar luto pela perda, mas os primeiros o fazem por efetivo sentimento de perda e os últimos, por vezes, pela civilidade que há de nortear as relações sociais. É bom que tenhamos a civilidade de lamentar a morte mesmo daqueles que não amamos. Isto nos caracteriza como humanos.
Não mereceu destaque o selfie de Marina Silva, sorrindo ao lado do caixão. Fosse um dos políticos aos quais setores da mídia se colocam na oposição estaria enrascado. Fez bem a mídia em não destacar isto. Afinal, quem nunca sorriu num velório? Por mais querida que seja a pessoa falecida, há sempre um momento no qual é relembrada uma ocorrência da vida do morto cuja rememoração nos faz fortes e aparentemente felizes, para em seguida – diante da certeza da definitividade da perda – sermos tomados novamente de tristeza e choro.
Os funerais são ritos de passagem. É momento no qual nos deparamos com nossa finitude e reencontramos o morto para desfazermos, definitivamente, os laços que nos uniam. Daí a importância da presença nos sepultamentos e a perversidade dos desaparecimentos, cada diz mais comuns nas políticas de segurança militarizadas.
Os camisas negras franquistas comemoravam a morbidez com o grito ‘viva a morte’. A direita é mórbida. Estará sempre aliada a Tânatos, pois evoca rancor, ódio, morte e desaparecimentos. E nada mais natural que neste momento de ascensão do Estado Policial, da sua brutalidade, cerceamento das liberdades e transposição para o Estado de Exceção, o ódio seja evocado como razão na política.
Quem não faz política como a direita não pode fundamentar-se no ódio. Ao contrário, a boa política há de evocar a vida, o amor, a compaixão, a generosidade e a humanização. E mesmo num funeral, é possível celebrar a vida. A tristeza, o choro e a rememoração dos momentos que vivenciamos com o morto hão de nos propiciar a consolação e a aquisição de forças para compreendermos que a vida precisa ser vivida e que sempre vencerá.
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