quarta-feira, 19 de maio de 2021

Moreira César, o assassino da campanha de Canudos (1896-1897)

No contexto à repressão ao arraial de Canudos, a chamada Campanha de Canudos, após o fracasso de duas incursões militares, o baiano Manuel Vitorino, presidente interino do Brasil, nomeou o coronel Moreira César para comandar uma terceira expedição militar. Vitorino na época era o vice-presidente da República, mas exercia interinamente a presidência no lugar de Prudente de Morais, que estava afastado por motivo de saúde.[1] A primeira fora comandada pelo tenente Manuel da Silva Pires Ferreira (1859 - 1925), tendo sido batida em Uauá (novembro de 1896), e a segunda pelo Major-fiscal Febrônio de Brito (1850 - ?), batida, por sua vez, em Tabuleirinho (janeiro de 1897).

Moreira César partiu do Rio de Janeiro para a Bahia em 3 de fevereiro de 1897, aportando em Salvador a 6 do mesmo mês. No dia seguinte partiu para Queimadas, onde chegou no dia 8 pela manhã, por trem expresso. Temendo que os sertanejos abandonassem o arraial, intensificou os preparativos para a partida da tropa em direção a Monte Santo. O seu efetivo era composto por mil e trezentos homens, seis canhões Krupp, cinco médicos, dois engenheiros militares, ambulâncias e um comboio cargueiro com munições de guerra e de boca.

Antes de acampar em Monte Santo, onde estabeleceu a segunda base de operações, Moreira César sofreu uma crise epiléptica, que se repetiria, com mais brandura, na Fazenda Lajinha, entre Monte Santo e Vila do Cumbe (atual Euclides da Cunha). Em Cumbe mandou prender o vigário local, padre Vicente Sabino dos Santos, sob a acusação de partidário de Conselheiro. O religioso foi solto posteriormente, por interferência do Estado-maior.

Próximo ao arraial de Canudos a expedição foi atacada por piquetes de homens de Conselheiro, sem que porém tenha havido enfrentamento.

 No dia 2 de março a coluna militar avançou sobre o Rancho do Vigário, a dezenove quilômetros de Canudos. Moreira César pretendia aproximar-se do arraial, permanecer um dia nas vizinhanças das margens do rio Vaza-Barris, bombardear a povoação e em seguida conquistá-la com a sua infantaria.

Na manhã do dia 3 Moreira César mudou subitamente de idéia, optando pelo ataque imediato. O arraial foi duramente castigado pelas peças de artilharia. O assalto final teve início após o meio-dia. Os defensores de Canudos defenderam-se a tiros a partir das igrejas velha e nova. Nos primeiros momentos as forças do exército conseguiram invadir o arraial e conquistar algumas casas. Foram, contudo, obrigadas a recuar, devido à pouca munição.

Após cerca de cinco horas de combate, Moreira César foi ferido no ventre, quando se preparava para ir à frente de batalha incentivar a tropa. Atendido pelos médicos, estes constataram tratar-se de ferimento mortal. O comando foi transferido ao coronel Pedro Tamarindo.

Após mais de sete horas de combate encarniçado, o coronel Tamarindo decidiu recuar. Moreira César faleceu doze horas após haver sido atingido, na madrugada de 4 de março de 1897, protestando que Canudos fosse uma vez mais atacado. Em reunião de oficiais, às 23 horas da noite anterior, fora decidida a retirada, dado o grande números de feridos. Moreira César mandou constar em ata que, se saísse vivo da guerra, pediria a exoneração do exército.

A retirada constitui-se uma das situações mais críticas em que o exército brasileiro esteve envolvido, uma vez que, batido, foi obrigado a percorrer os cerca de duzentos quilômetros que separam Canudos de Queimadas, primeira base de operações da tropa.

O ataque mal sucedido ordenado por Moreira Cesar é atribuído a seus constantes ataques de epilepsia. Estudos foram documentados por Elza Márcia Targas Yacubian como um dos casos em que a epilepsia mudou o rumo da história.


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