“Os interesses que se opuseram à
nacionalização do petróleo na década de 40 e 50, denunciados na
carta-testamento de Getúlio Vargas, assacam contra a Petrobras e — aproveitando
os desmandos de sucessivos governos — promovem campanha pela sua privatização.
O ouro das Minas Gerais promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra. A
privatização do pré-sal e da Petrobras pode não se traduzir em solução para os
problemas que enfrentamos. Mas pode ser fonte de enriquecimento dos
interesseiros denunciados por Vargas”.
Levantamento do Conselho Nacional de Justiça
demonstra que no Judiciário tramitam 92 milhões de processos. É como se metade
da população estivesse processando a outra. Dizem que há demandismo na
sociedade e que a ampliação do acesso à Justiça e a instituição de novos
direitos tornaram os brasileiros litigantes. Isto não corresponde à realidade.
O mesmo estudo mostra que 95% dos processos têm como partes instituições
financeiras (bancos e seguradoras), concessionários de serviços públicos
(empresas de telefonia, de água, luz e transporte), lojas de departamento e o poder
público. Cidadãos demandam entre si em apenas 5% dos processos.
O perfil dos principais litigantes não deixa dúvida
de que se está fazendo uso predatório da Justiça, sobrecarregando o Judiciário
e atentando contra a cidadania. Danos à população são causados pela má
qualidade dos serviços e com o gasto dos recursos públicos para manutenção da
máquina judiciária a fim de solucionar os conflitos de interesse decorrentes
dos maus serviços prestados.
A privatização da telefonia, do transporte e da
energia foi apresentada como solução para os problemas na prestação de tais
serviços. O que o neoliberalismo apregoava era a incapacidade do Estado em
geri-los, e se dizia que os recursos advindos seriam gastos na Saúde e
Educação. Elio Gaspari chamou esse fenômeno de privataria. Entregues à gestão
privada, os serviços não melhoraram, seus preços subiram acentuadamente e se
traduzem em problema para o Judiciário.
A saúde segue o mesmo caminho. Os hospitais
públicos têm sido entregues à gestão privada, ou seja, às Organizações Sociais,
ou OSs, com maior custo para o poder público e lucro dos gestores de tais
organizações. Promove-se o desmantelamento das carreiras da saúde, onde um
médico ganha cerca de dois salários mínimos mensais por uma jornada de 24 horas
semanais, desestimulando até mesmo jovens médicos a prestar concurso.
Os interesses que se opuseram à nacionalização do
petróleo na década de 40 e 50, denunciados na carta-testamento de Getúlio
Vargas, assacam contra a Petrobras e — aproveitando os desmandos de sucessivos
governos — promovem campanha pela sua privatização. O ouro das Minas Gerais
promoveu a Revolução Industrial na Inglaterra. A privatização do pré-sal e da
Petrobras pode não se traduzir em solução para os problemas que enfrentamos.
Mas pode ser fonte de enriquecimento dos interesseiros denunciados por Vargas.
Publicado originariamente
no jornal O DIA, em 08/03/2015. Link: http://odia.ig.com.br/noticia/opiniao/2015-03-08/joao-batista-damasceno-privatizacao-e-ineficiencia.html
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