As ocorrências
violentas contra a caravana do ex-presidente Lula somente têm precedente nos
piores momentos da nossa história. Parcela da mídia corporativa minimiza as
ocorrências. Mas, é grave. Quando trabalhadores rurais sem-terra fazem
caminhadas com seus instrumentos de trabalho são tratados como grupo violento e
armado e o assunto, noticiado ao lado de crimes. Mas, os senhores rurais e do
"mercado de terra" obstruem as vias públicas com seus tratores e
caminhonetes financiadas por crédito rural público, atiram objetos na caravana
e são tratados como manifestantes. Uma senadora sulista parabenizou os vândalos
e no dia seguinte a caravana foi alvejada por tiros.
Em sua
campanha abolicionista, Silva Jardim não podia falar em algumas cidades. Em
outras conseguia falar, mas não ficar, sob pena de incêndio da casa que o
hospedasse. A abolição da escravatura e a proclamação da República não
resolveram os problemas e Silva Jardim, desgostoso, viajou para a Itália e caiu
no vulcão Vesúvio. Para mim, foi suicídio.
É
preciso viver para resistir à ressurreição do fascismo. Não passarão! E não
serão as flores que vencerão as milícias rurais. Será preciso opor-lhes a força
com a legalidade. Os que se assenhoraram das terras não desejam a felicidade e
a paz. O que querem é impor a quietude dos cemitérios, a fim de manterem o país
da desigualdade. Não são nacionalistas. Se agarram à bandeira do Brasil, mas
entregam as riquezas nacionais ao capital internacional; odeiam o povo
brasileiro e têm Miami como referência de vida; falam que o país é pacífico,
mas são os patrocinadores das execuções no campo e na cidade. A execução de
Marielle é parte desta truculência de classe.
O
atentado à democracia e rejeição à vontade popular estava expresso no
noticiário televiso em 2010. A propaganda eleitoral em forma de jornalismo foi
escancarada naquele ano. Nos dias 20 a 22 de outubro de 2010, um casal
televisivo, com caras e bocas, promoveu narrativas sobrepondo imagens de um
conflito de rua no qual o candidato José Serra teria sofrido um atentado por
militantes do PT. Após esclarecimento que eram funcionários da Funasa que
protestavam e atiraram uma bolinha de papel no candidato, o noticiário não mais
tratou da questão a partir do dia 23. Omitir, ampliar ou minimizar ocorrências
é parte do padrão de manipulação da mídia corporativa.
Publicado originariamente no jornal O DIA, em
31/03/2018. Link: https://odia.ig.com.br/opiniao/2018/03/5526999-fascistas-sem-limites.html
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